Acordava às sete, escovava os dentes e corria para a casa da avó. Desde o nascimento morava ao lado. A chave da porta ficava escondida num vaso de plantas bem na entrada. Era a forma mais simples que a avó encontrou de deixar a netinha entrar sempre que quisesse sem a necessidade de chamá-la, já que passava a maior parte do tempo no serviço de casa ou fazendo suas orações que eram guardadas num álbum de fotos.
Bem na sala de estar havia uma cristaleira abarrotada de louças que eram tratadas como se fossem um tesouro, inclusive, fechadas à chave. Bem do lado esquerdo, num móvel antigo em madeira torneada do século XIX ficavam expostas suas imagens sacras. Era católica fervorosa e mantinha diversos Santos trazidos de suas romarias, feitas em inúmeros lugares do país.
Havia, no entanto, uma imagem cuja história contada e recontada pela avó, causava certo pânico na menina. A imagem, vestida com uma túnica marrom, trazendo no colo uma criança, com estrelas em volta da cabeça e com os pés sobre o mundo tinha uma simbologia que causava tremores toda vez que a enxergava, mesmo ao longe.
Sua avó a tinha presenteado com um escapulário da referida Santa, dizendo que quem o usasse receberia todas as graças pedidas. A menina nunca usou porque, certa feita, ao contar a história da Santa, a ascendente deixou escapar que se tratava de uma aliança dos carmelitas, e que, em sendo respeitados os ditames da lei religiosa e a entrega devocional à oração, receberiam, os detentores do amuleto, uma mensagem da hora da morte, para se preparar para viver o momento. Seria o ultimato religioso para o arrependimento sincero, pedido de perdão e a conquista do céu.
Como não queria saber a hora da morte e acreditava ser um tormento a presença daquela imagem, olhando para ela como se tivesse que lhe dar uma mensagem, a garota a virava de costas, todos os dias, antes mesmo de cumprimentar a avó.
Ao entrar no quarto, lá estava a avó, sentada ao pé da cama, com um rosário de madeira talhado manualmente pelo seu filho número 7 dos 11. No cabelo mantinha uma trança que chegava até o fim da coluna vertebral. As meias compressivas eram sobrepostas por um lençol que disfarçava suas juntas grossas, que terminavam num sapato de pano. Ofertava sua benção com um sinal da cruz na testa e apontava a lata de biscoitos, a bomboniere e o controle da televisão, tudo de uma vez, recitando ave-Marias.
Um dia, a neta adoeceu e as visitas foram suspensas. Foi infectada por uma bactéria que atacou o sistema respiratório e de repetição fez com que a medicação não fosse satisfatória gerando a necessidade de intervenção médica hospitalar.
Já internada há mais de 5 dias, embora mantivesse o quadro estável, a avó foi visitá-la. Debilitada pelos efeitos colaterais do remédio, ela estava sonolenta, quando ouviu em tom de segredo a avó dizer à mãe:
- Não sei o que está acontecendo, minha filha. Tenho rezado muito, mas mesmo assim, nenhuma resposta de Nossa Senhora do Carmo. Ela permanece imóvel!
- Então, mãe. O que faremos pela saúde de Liz? Ela nunca nos abandonou, sempre nos deu respostas. Nem quero pensar no pior. Valha-me Deus!
- Não houve movimento algum da imagem! Mas temos que ter fé.
A menina esperta tal era, embora a doença a consumisse, olhou para as duas e soltou:
- Mãe. Não era milagre não. Sempre tive medo de Nossa Senhora do Carmo me avisar que você, a vovó ou eu ia morrer. Então todo dia, ao chegar, a virava de costas. Assim, ela jamais ia me dizer qualquer coisa...
A surpresa foi tão grande que todos acabaram rindo das estripulias da menina que como bum milagre teve seu quadro evoluído para melhora expressiva. Não demorou muito e estava de alta.
Quando retornou, vencendo seus medos, colocou o escapulário e foi logo mostrar o feito para a avó. Quando chegou, a surpresa: os santos estavam em cima da cristaleira e Nossa Senhora do Carmo havia sumido. Correu para perguntar o que havia ocorrido e deu de cara com a avó a ela abraçada caída no chão. Chorando, saiu correndo e foi chamar a mãe que logo ligou para o SAMU e, embora tivesse sofrido um infarto, o pronto atendimento fez com que pudesse ser salva.
A menina Liz nunca mais tirou o escapulário e Nossa Senhora do Carmo ganhou um lugar especial na casa... Ao lado da cama da vovó Carminha!
Bem na sala de estar havia uma cristaleira abarrotada de louças que eram tratadas como se fossem um tesouro, inclusive, fechadas à chave. Bem do lado esquerdo, num móvel antigo em madeira torneada do século XIX ficavam expostas suas imagens sacras. Era católica fervorosa e mantinha diversos Santos trazidos de suas romarias, feitas em inúmeros lugares do país.
Havia, no entanto, uma imagem cuja história contada e recontada pela avó, causava certo pânico na menina. A imagem, vestida com uma túnica marrom, trazendo no colo uma criança, com estrelas em volta da cabeça e com os pés sobre o mundo tinha uma simbologia que causava tremores toda vez que a enxergava, mesmo ao longe.
Sua avó a tinha presenteado com um escapulário da referida Santa, dizendo que quem o usasse receberia todas as graças pedidas. A menina nunca usou porque, certa feita, ao contar a história da Santa, a ascendente deixou escapar que se tratava de uma aliança dos carmelitas, e que, em sendo respeitados os ditames da lei religiosa e a entrega devocional à oração, receberiam, os detentores do amuleto, uma mensagem da hora da morte, para se preparar para viver o momento. Seria o ultimato religioso para o arrependimento sincero, pedido de perdão e a conquista do céu.
Como não queria saber a hora da morte e acreditava ser um tormento a presença daquela imagem, olhando para ela como se tivesse que lhe dar uma mensagem, a garota a virava de costas, todos os dias, antes mesmo de cumprimentar a avó.
Ao entrar no quarto, lá estava a avó, sentada ao pé da cama, com um rosário de madeira talhado manualmente pelo seu filho número 7 dos 11. No cabelo mantinha uma trança que chegava até o fim da coluna vertebral. As meias compressivas eram sobrepostas por um lençol que disfarçava suas juntas grossas, que terminavam num sapato de pano. Ofertava sua benção com um sinal da cruz na testa e apontava a lata de biscoitos, a bomboniere e o controle da televisão, tudo de uma vez, recitando ave-Marias.
Um dia, a neta adoeceu e as visitas foram suspensas. Foi infectada por uma bactéria que atacou o sistema respiratório e de repetição fez com que a medicação não fosse satisfatória gerando a necessidade de intervenção médica hospitalar.
Já internada há mais de 5 dias, embora mantivesse o quadro estável, a avó foi visitá-la. Debilitada pelos efeitos colaterais do remédio, ela estava sonolenta, quando ouviu em tom de segredo a avó dizer à mãe:
- Não sei o que está acontecendo, minha filha. Tenho rezado muito, mas mesmo assim, nenhuma resposta de Nossa Senhora do Carmo. Ela permanece imóvel!
- Então, mãe. O que faremos pela saúde de Liz? Ela nunca nos abandonou, sempre nos deu respostas. Nem quero pensar no pior. Valha-me Deus!
- Não houve movimento algum da imagem! Mas temos que ter fé.
A menina esperta tal era, embora a doença a consumisse, olhou para as duas e soltou:
- Mãe. Não era milagre não. Sempre tive medo de Nossa Senhora do Carmo me avisar que você, a vovó ou eu ia morrer. Então todo dia, ao chegar, a virava de costas. Assim, ela jamais ia me dizer qualquer coisa...
A surpresa foi tão grande que todos acabaram rindo das estripulias da menina que como bum milagre teve seu quadro evoluído para melhora expressiva. Não demorou muito e estava de alta.
Quando retornou, vencendo seus medos, colocou o escapulário e foi logo mostrar o feito para a avó. Quando chegou, a surpresa: os santos estavam em cima da cristaleira e Nossa Senhora do Carmo havia sumido. Correu para perguntar o que havia ocorrido e deu de cara com a avó a ela abraçada caída no chão. Chorando, saiu correndo e foi chamar a mãe que logo ligou para o SAMU e, embora tivesse sofrido um infarto, o pronto atendimento fez com que pudesse ser salva.
A menina Liz nunca mais tirou o escapulário e Nossa Senhora do Carmo ganhou um lugar especial na casa... Ao lado da cama da vovó Carminha!