Viagem do amor

- Não. Não tem graça nenhuma essa música Andrino...

- Ah José! Você não é sensível mesmo né cara!? Nunca saberá a emoção que uma música pode despertar na mente e coração de alguém! Você jamais saberá o que é o amor!

    O José não era propriamente um insensível como o Andrino acusava. Mas não se pode dizer que o José era um homem que iria emocionar-se com o cheiro de uma rosa ao meio dia no jardim, ou com o perfume característico da dama-da-noite ao caminhar em uma estrada deserta pela noite. O José era um homem prático: sensível quando tinha de ser, insensível quando tinha de ser.

    O José achava que sabia o que era o amor. Porque a sua mãe, Rosalina, ainda era viva e muito próxima desse homem. Tudo por ela o José fazia, visto que o seu pai, Anastácio, tinha morrido há três anos: Rosalina era viúva e o seu filho era um suporte importante que lhe dava ânimo para viver.

    O amor, portanto, era aquilo que sentia por sua mãe. E no que diz respeito às outras mulheres, sobretudo aquelas de mesma faixa de idade sua, o que o José sentia era atração. Sim. Porque no ficar e nos namoros que teve com todas aquelas moças do passado, ele sempre teve muito claro que tudo aquilo era forte atração, mas, não o amor.

    No grande supermercado do bairro, na seção de hortifruti, o José sentiu algo por uma mulher muito superior à atração pela primeira vez.

    Assim foi. Eu conto.

    Tudo porque ela passou por ele enquanto este decidia se levava morango ou maçã para finalizar a sua salada de frutas. A maçã exalava um leve cheiro; o morango parecia muito apetitoso, vermelho, mas não lançava seu cheiro no ar pois estava embalado. As embalagens lacram os cheiros possíveis de serem sentidos. Mas no caso dela, ela, lançava no ar um perfume que foi sentido por José.

    E depois dela passar e deixar o perfume impregnado, o José pôde ver seus cabelos lisos que ondulavam suavemente à medida que caminhava. E num determinado ponto da caminhada, ela parou, alguns metros à frente de José virando-se imediatamente para ele. Ela tinha uma dúvida sobre o preço de uma determinada fruta. José respondeu. Ela agradeceu.

    No voltar para casa, José sentiu que com ela seria agradável fazer uma viagem. Somente ele e ela, sem a sua mãe. Para que ele pudesse, durante o trajeto desta viagem imaginada, ver os cabelos lisos e volumosos da moça ondular graciosamente no ar; para que nesta viagem, o perfume dela fosse sempre presente, não passageiro.

São José, 25 de Agosto de 2020

Cleber Caetano Maranhão.