O jardim de dona Beatriz
Um rangido no chão de madeira, portas velhas que batiam sem circulação dos ventos, e passos ligeiros no sótão. De repente, a casa ganhou vida, parecia uma anciã reclamando das dores do corpo, gemendo e chorando. Dona Beatriz acordou assustada. Pensou que estivesse sonhando. E os barulhos continuavam; em pânico, começou a gritar:
- Lorenzo, Daiane, Alexandro, Michele!!!!!! Vocês estão aqui?
E o silêncio imperou por uns instantes. A janela abriu lentamente, uma onda de ar gelado entrou pela casa, e um vento uivou muito forte. Nesse instante, dona Beatriz, começou a tremer; já com 87 anos, mal de Parkinson, vistas turvas e corpo frágil. Pegou o terço na cabeceira da cama e orou em voz alta.
- Ave Maria.....Socorro!!! Pelo amor de Deus, deixe-me em paz! Saia daqui!
A sombra veio em sua direção, começou a crescer, e os olhos eram vermelhos; estavam em chamas. A pobre e delicada senhora fez xixi nas calças, de tanto pavor. Desmaiou, e quando recobrou a consciência estava em um jardim, e pela beleza das flores, era primavera. Pássaros cantando, borboletas voando, beija-flor namorando as rosas, joaninhas felizes, e um sol iluminado.
Tudo estava tão perfeito. Respirou com certo alívio, e esqueceu o pesadelo que acabara de ter. Pensou em aproveitar o momento, e nem quis saber de como veio parar ali. Agradeceu. Dona Juca, a vizinha da casa 580, estava dando entrevista para um jornal local, chorando e sem entender o que de fato aconteceu, falou:
- Acordei com a casa de dona Bia em chamas, não pude fazer nada. Ela dormia com uma vela acesa, e tinha medo da escuridão.