O livro d'alma

Eduarda estava sentada em seu lugar, numa aula de filosofia. Observava a brancura de sua mão contrastando com o preto da tinta no papel. A professora falava, as palavras passeavam na sua mente debaixo dos loiros cabelos da cabeça.

Às vezes prendia uma ou duas ideias de filosofia, depois elas voavam pra longe. Olhou para a mesa de sua cadeira percebendo o quão suja ela estava: rabiscos de contas, rabiscos de canções, rabiscos ao aleatório... Como sua vida, repleta de rabiscos que contrastavam com o branco da cadeira, uma alma pura cheia de lugares escuros.

Seu olhar viajou até a janela, onde encontrou o olhar marrom da inspetora. Mas seus olhos não encontram os de Eduarda. Fazia a chamada, riscando calmamente o papel, e às vezes mais rápido, como se estivesse fazendo aqueles rabiscos.

A mulher olhou para a menina-sol e sorriu levemente para sua alma rabiscada. Não. Ela não podia ver sua escuridão. Talvez via apenas a tinta branca de pele que envolvia sua alma, não dava para ver dentro.

Eduarda jogou um sorriso para a mulher de cabelos da tinta do papel. A inspetora voltou a rabiscar. A loira quase sentia ela escrevendo em sua alma, com uma tinta clara que só mesmo ela enxergava.

Poucas pessoas enxergam os rabiscos brancos, preferem ler os pretos. Mas aquela inspetora parecia ler todo o texto. Lia, não julgava. A alma da menina branca sorriu para ela...

Sorriu com a brancura das letras em seu corpo.

(Escrito em 12/09/2018)

Nicole Brunoro
Enviado por Nicole Brunoro em 21/08/2020
Reeditado em 21/08/2020
Código do texto: T7042280
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