258 - O Bar
Ficou ali a olhar as sombras. Dobrou-se sobre o copo da bebida e viu melhor o tampo da mesa, a toalha de tecido áspero, o cinzeiro pesado e enorme. Era proibido fumar mas o ambiente de pouca luz estava cheio de fumo. Também se pedia decência num cartaz à entrada e a primeira coisa que percebeu, depois de se habituar ao escuro, foi um emaranhado de mãos e pés, um novelo humano no sofá de veludo contíguo aquele onde se dispôs a ficar. – Daqui não vejo nada, tranquilizou-se. A figura do pianista recortava-se num fundo vermelho e o clarinete acentuava a melancolia. Apertou a carteira, levantou a saia curta e afagou-se. Um dia, pensou, talvez ache o homem ideal. Talvez esteja aqui mas tudo me diz que, se estiver quem me interesse, não vou ver. Talvez perceba, ainda assim. Pediu mais um álcool com gelo e ficou a refrescar os dedos no frio do líquido incolor. Quando ergueu a cabeça viu-o recostar-se a seu lado, estender as mãos sobre a mesa e abrir as pernas até a tocar. Conseguiu levantar-se mas tinha a mente toldada e amparou-se à parede até chegar à porta do Bar. Procurou as chaves, torceu o pé e tirou o sapato de tacão alto. Não sabia onde deixara o carro, estava tonta, chorava. E ele segurou-a com firmeza. Se quiser voltar não a incomodarei mais, se quiser ir embora eu levo-a. Não pode conduzir como está, disse.