247 As Férias
Vinha por uns dias e esquecia-me de querer voltar. A viagem era bonita mesmo no desconforto da traseira de uma bicicleta de pedais. Depois que chegássemos a metade do caminho era tudo a descer, ganhava-se velocidade e vento refrescante, cruzava-se a mata que se fechava de um e outro lado do caminho e, no pátio, desentorpecia as pernas, recebia as boas vindas. A seguir atravessava a casa com uma sala inútil para onde davam quatro quartos acanhados, uma varanda e, por fim, corria para ver o macaco e o papagaio, os cães e o estábulo, a horta e o pomar. O bom das férias era ser convidado a participar em todas as tarefas e poder ter no casal de tios velhos e na prima barulhenta ouvidos atentos. Contava coisas da cidade e algumas das respostas eram interiormente aperfeiçoadas para surtir mais efeito. Era fantástico ver aparecer manteiga no leite que se batia para a fazer acontecer, era bom sentir os aromas do álcool de massambala ou de milho, o cheiro das mangas e o da goiabada acabada de fazer. O pão caseiro e o leite inteiro recém tirado O pior era a sopa onde sempre boiavam alguns piolhos da couve, inofensivos no dizer dos tios. Que bom era ver tratar das vacas ao final do dia. O tio e Adriano, de candeeiros a petróleo, a orientar tudo, a substituir com capim as camas do gado, a reservar o estrume para fertilizar as plantações, a afagar as vacas que também podiam ter nomes de gente. Uma noite, pariu a Malhada. Foi um reboliço com toda a gente a pé e eu a seguir os dois homens que ajudariam no parto. Guardo todas as imagens, todos os cheiros, todas as precariedades e diferença. Quem adivinharia que este mundo amável e simples se perderia, definitivamente, para mim?