244 - A Morte do Patrão
Quando ninguém previa , acharam-no morto no jardim da casa. Estava com as mãos cruzadas no peito e o sangue corria-lhe entre os dedos. Levaram-no ninguém soube para onde e, após terem feito a reunião com o filho mais velho, os serviçais confirmavam, a quem queria saber, a morte serena do patrão que há tempos estava tomado por doença. – Ainda ontem se servi a canja de galinha, com as patas e a moela como ele gostava, mentiu lacrimejante a criada. A seguir foi tudo muito rápido. Sem flores nem rezas lá o depositaram no jazigo de família. Nos dias seguintes, uns atrás dos outros, vieram homens fazer medições no jardim, perguntas difíceis à Senhora e aos filhos e tudo girou num secretismo que travou a altura dos comentários e a frontalidade dos olhares. Despediram pessoal, Dona Henriqueta passou a fazer o seu chá de hortelã e a tomá-lo na bancada da cozinha e o Arturzinho, agora a gerir a Fábrica, ganhou jeitos de dono de tudo e andava feliz. As más-línguas, porém, já afiançavam que o velho tinha sido abatido por se ter metido em negócios cabeludos. Por quem, é que nunca se soube maugrado as diligências da Polícia e os relatórios da necrópsia. Quando foi da missa de sétimo dia, o oficiante aludiu ao espírito empreendedor do defunto e disse até coisas que eram de uma gritante falsidade. Morrendo, de vontade ou não, se santificam murmurou a cozinheira que vinha com esperança de ser outra vez contratada.