ERA UMA VEZ...O JOÃO

João bolão cara de mamão, com este epiteto o coitado do João era conhecido nas redondezas onde morava. Apesar de demonstrar falsa aversão a esta situação, João se deliciava, pois sabia muito bem tirar proveito de tais circunstâncias. Vivia sua humildade com maestria, respeitava a todos inclusive aqueles que o desdenhava. Cuidava de seu pedaço de chão como se cuida de uma criança. Pitomba seu fiel companheiro sempre o acompanhava nas lides da terra, no passeio a Vila, nas idas a missa do padre Albertoni, diga-se de passagem, o único que o entendia. Em seus momentos de reflexão vez ou outra gargalhava da insanidade de seus paroquianos imaginar o João bolão ser um bobão, não sabem eles que atrás deste tolão existem segredos bem guardados, revelados no interior do confessionário, pensava para si. Segredos que morrerá comigo, afinal fora em confissão que conhecera outro João, o João verdadeiro.

Certo dia João amanhecera tristonho, mal humorado, um tanto preocupado diante das fofocas que ouvira na Vila, porém tinha certeza de que nada o afetaria, afinal que mal um bobão feito João causaria aquela comunidade, pensava ele. As pessoas se questionavam o que estava ocorrendo naquela pacata Vila, da noite para o dia algumas mulheres aparecem embuchadas. Será que o Lobisomem apareceu por estes lados? O Boto cor de rosa enfeitiçou as mulheres? O tinhoso fez deste lugar o seu lar? Vejam, a Aninha, filha da comadre Josefina, tão fina, tão meiga, tão inocente, mas que gente. A linda Dorinha, filha do compadre Zezinho, tão certinha, uma anjinha, que peninha. A Clarinha, neta do seu prefeito, não é direito tal desrespeito com um homem tão caridoso, este vexame desastroso. Dona Carminha, esposa do seu delegado, que desagrado para com um homem de grande piedade, eterna infecundidade.

A comunidade iniciara uma busca frenética pelo ou pelos responsáveis daquela situação inusitada. Seu delegado efetuara uma viagem emergencial sem data de retorno deixando seu auxiliar direto para as devidas investigações. O senhor prefeito realizara o sonho de sua neta presenteando-a com uma viagem ao exterior ficando o tempo que desejasse juntamente com sua mãe e a titia Formosinha. Compadre Zezinho, comadre Josefina continuaram suas vidas simples naquela Vila sendo amparados pelo padre Albertoni, que de tudo desconfiava, ou melhor, tinha certeza do responsável por toda aquela situação. João...continuou, João bolão cara de mamão...

Valmir Vilmar de Sousa (VeVê) 05/08/20

valmir de sousa
Enviado por valmir de sousa em 05/08/2020
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