PRATO DE VIDRO
Estava quase na hora do almoço. Lá em Itapuranga, dona Maria começava a preparar o almoço. Só para ela. Pois os filhos tinham se esparramado pelo mundo e Seu Zé Teo, seu marido, fazia menos de um mês tinha morrido. Sua filha Elisa e sua neta Luana tinham ido na van da Prefeitura até Goiânia, fazer consultas e alguns exames. Coisas do coração, no caso de Elisa. Dona Maria estava à pia lavando pratos do jantar do dia anterior. A pia ficava à janela que se abria para o quintal da frente da casa. De onde podia observar a horta e o jardim da referida frente da casa que dava para um amplo portão. Foi quando entrou pelo portão toda espavorida a vizinha, que era outra Maria, sempre cheia de notícias, sendo a primeira a dar as últimas. Como sempre botando muita urgência nessa função, que desempenhava com muito prazer.
_ Dona Maria! Dona Maria! A senhora está ouvindo a Rádio Primavera?
_ Você sabe que não Maria, minha igreja não permite. Mas manda a notícia ruim...
_ Lá perto de Goianira a van da Prefeitura bateu em um poste. Está todo mundo no hospital. Todos feridos. Muuuuito feridos! Disseram que morreram duas pessoas... A sua filha e a filha dela não estavam...
Antes dela completar, D. Maria, que era "cardíaca", caiu no chão e na hora morreu... Morta no chão da cozinha, D. Maria segurava um prato de vidro, que não se quebrou apesar da queda brusca da dona da mão que o segurava...
(...)
No justo instante em que o telefone celular que estava sobre a mesa da cozinha, com forro decorado com frutas, tocou. Tocou, tocou e tocou. Era sua filha. Mas Elisa não sabia que sua mãe não podia atender. Queria dar a informação de que tudo estava bem com ela e com a filha, antes que a notícia chegasse à sua mãe pela boca de um vaso ruim. Vaso ruim atendeu o telefone e deu a última notícia.