DOIS CAROÇOS

O menino estava ali do lado, ouvindo sua mãe e a vizinha conversarem. "Assuntando". Então a vizinha levantou a blusa e mostrou os peitos à sua mãe. Ele que nunca tinha visto aquilo assim desvestido, arregalou os olhos, e talvez pela primeira vez outras partes do corpo.

_ Olha só, Dona Vânia! Acho que tem um caroço bem aqui! Ó!!!

A mãe olhou e até apalpou, mas resolveu tranquilizar a vizinha, diminuindo o tamanho e a gravidade do suposto caroço. Era só impressão dela! Dizia para a vizinha, mas não para si mesma. Pensou: tinha ali possivelmente algo do qual não se podia dizer o nome. "Caroço" era eufemismo. Mas disse que por via das dúvidas era melhor procurar um médico para não mais se preocupar com aquela "'bobagem". Mais tranquila, a vizinha foi embora: Dona Vânia sabia mais que muitos médicos! Mas o menino não se tranquilizou, nem achou "aquilo uma bobagem". Poderia até ser bobagem, mas eram duas. Então ele disse:

_ Mas mãe, a senhora mentiu feio! O caroço dela é danado de grande. E não é só um, são dois. E eu acho que são maiores que os seus até.

_ Para de "enredar" menino! Vai aguar a horta e limpar a casa!

E deu-lhe um beliscão. Que foi a única informação que recebeu: para os olhos de menino aqueles dois caroços deram um misto de satisfação, dor e calombo. Um saber que nunca o abandonou.