O Talk Show da Vida
São oito horas da manhã.
O meu coração está inquieto desde que ela entrou na sala de parto. Não tive sangue para acompanha-la na empreitada. Por favor, não me julguem, só sou muito covarde em alguns momentos.
Ela entrou em trabalho de parto durante a madrugada. Estávamos assistindo um Talk Show na TV. Éramos espectadores assíduos do referido programa, adorávamos o apresentador e me atrevo a dizer que ele era praticamente um membro de nossa família. Tamanho o apreço que gozava em minha casa!
Perdoe-me pela breve digressão.
Minha esposa era uma bela mulher, símbolo de força e amizade. Mesmo preste a dar a luz, ela não deixava transparecer a dor, mantendo um leve sorriso em seu semblante. Estávamos contando os dias para que o nosso filho nascesse. Tudo estava organizado, lembro que ela fez a mala do nosso filho um mês antes.
Nove horas e quinze minutos.
Eu estava sentado na sala de espera. Sozinho e consumido em milhões de pensamentos. Minha mente me levou até as situações do programa de entrevista. Estava me imaginando sentado no sofá, ao lado do apresentador. Enquanto ele contava a minha história e provocava na plateia boas gargalhadas.
Dez horas e trinta e dois minutos.
Os meus pés estavam suando, as mãos geladas e a garganta seca. Precisava tomar alguma coisa. Talvez uma cerveja bem gelada! Mas a minha mente tratou-me de lembrar que eu estava na sala de espera de um hospital, reunindo toda a coragem só para dizer para as minhas pernas para não tremerem tanto.
Lembrei a primeira vez que encontrei a minha esposa. Ela sentada na mesa do restaurante a minha espera, e quando a avistei fiquei sem palavras diante daquele sorriso. Isso foi o bastante para saber que a mágica era real.
Quinze para as onze.
Minha mente já não conseguia processar coisa alguma. O cara do Talk Show estava fazendo chacota de mim! Contou que minha alma tinha ido buscar um pouco de café enquanto eu estava ali sentado, com as pernas tremulas !( A plateia ria sem parar). Eu me enfiava mais na cadeira, encolhendo o corpo em sofrimento solo! Eu apenas participava do espetáculo que minha mente produzia.
Onze horas em ponto.
Já sem força, quase desmaiando. Vi um vulto vestido de azul vindo em minha direção... Eu estava moribundo, quase totalmente apagado.
A enfermeira perguntou meu nome, balbuciei algumas palavras desconexas. Ela me disse que tinha duas pessoas me esperando lá dentro e que passavam muito bem!
Minha cor foi retornando, assim como minha pseudo-confiança! Ajeitei a minha roupa, pigarreei para limpar a garganta embargada, tentei disfarçar o nervosismo regresso.
Ao entrar na sala, fiquei embasbacado com a visão da minha linda família. Sorrindo, apenas desejei que o apresentador do Talk Show me entrevistasse neste exato momento, e mesmo que eu fosse um completo idiota,eu seria o idiota mais feliz do mundo!