Proteção e isolamento
Havia um casal que vivia junto a mais de cinquenta anos, que se dava muito bem; construíram um lar, criaram filhos, e viram seus netos crescendo.
Se amavam, se respeitavam, e a alegria era rotina, o tempo já havia causado alguns efeitos, mas, lado a lado sempre caminharam.
Março de 2020, e como num filme de terror, trouxe um medo tão grande; a morte rondava...
O que fazer agora?
Ele pensou nela, nos filhos e netos, e decidiu se isolar, não saíram mais de casa; justo eles que tinham uma vida muito ativa; alimento só entrava depois de ser esterilizado, não receberam mais abraços, nem beijos, e com os vizinhos bem de longe conversavam.
Estavam protegidos...
Numa manhã de domingo, de sol na capital de Curitiba, a morte beijou tão friamente o rosto da mulher amada, não a viu partir, nenhum sussurro, nenhum gemido de dor, apenas o silêncio.
Os filhos e netos adentraram o portão, o SAMU entrou, os vizinhos abraçaram, as lágrimas rolaram por um homem que agora caminharia só; a funerária chegou e levou o corpo daquela mulher amada, sabiam que teriam pouco tempo para despedidas e homenagens, mas, ela as receberia, era um amor tão lindo que não teria mais retorno; ficaria uma saudade tão grande, a falta do último beijo, do último abraço, que o medo impediu de dar.
Infelizmente, o medo da morte não a impede de chegar.
*Essa é uma história real, não soube bem como classificar, conto, crônica; é parte da vida, dos tempos de agora, de alguém próximo que eu gostava muito, ela faleceu enquanto dormia, o esposo não ouviu um gemido dela, quando acordou, depois de chamar muitas vezes por ela, percebeu que tinha partido; ela vai deixar boas lembranças, risos e um sorriso sempre generoso. Dessa pessoa querida, ganhei uma orquídea, que depois de anos, deu muitos cachos de flores, que está aqui na minha sala, alegrando o ambiente e o meu coração; dividido pela tristeza da partida dela.