O Anúncio

Era uma tarde ensolarada. O bairro em questão não era na região nobre da cidade, mas tinha uma ótima infraestrutura, padarias, lojas, mercados e bares. A visita ao local em nada tinha relação com qualquer especulação imobiliária. O motivo que o retirara do seu confortável condomínio fora um anuncio virtual com uma proposta difícil de declinar.

Ao ler o anúncio, não pensou duas vezes. Tomou o telefone e ligou, ouviu a voz de uma senhora, assim supôs. Anotou em sua agenda o endereço do local, combinaram o horário que ocorreria a reunião e o mais importante o valor que ele, impreterivelmente, deveria levar para realizar o pagamento pelo serviço.

Ele era um homem interessado no assunto. Já tinha pesquisado muito sobre o tema, lera muito na internet sites especializados e não tinha encontrado oportunidade semelhante. Desconfiou um pouco ao ler o anúncio, mas ao clicar na propaganda fora direcionado para um site em que pessoas davam lindos depoimentos e atestavam que o prometido era de fato realizado.

E temos que ter em mente o seguinte, o depoimento é a melhor forma de propaganda. Aliás, é a palavra dada por uma pessoa sobre um determinado fato, presumimos que a palavra seja verdadeira, sem que haja necessidade de qualquer formalidade, não é preciso ir ao cartório autenticar nenhum documento.

Quando entramos em sites, as pessoas fazem vídeos com depoimentos sobre diversas experiências. Quando vamos à igreja, tem um momento da cerimônia que alguém fala do sucesso que teve em determinada ocasião nos ofertando um lindo depoimento. Até na televisão, outro dia apareceu uma propaganda espetacular sobre um aparelho revolucionário, lá estavam às pessoas que usaram o aparelho, antes mesmo do lançamento do produto, nos garantindo que a coisa é boa e devemos comprá-la o mais rápido possível.

Sendo assim, entendendo a urgência que o anuncio reportava, se apressou e foi ao local combinado. Havia separado o dinheiro nos quatro bolsos da calça, pois temia o pior, andar na cidade tem seus riscos, era precavido sim. Quando bateu na porta de número cento e oitenta e quatro, uma linda mulher o recebeu com um sorriso.

Estranha sensação aqueles olhos causaram no jovem adulto. Mas manteve o foco na sua missão principal. Então se apresentou e disse que tinha negócios importantes a tratar, ao que foi conduzido por um corredor extenso, com a instrução, de que ao final do caminho, encontraria uma portava de cor vermelha e que poderia “entrar sem bater”. Seguiu a instrução religiosamente.

Ao chegar ao recinto entrou com passos firmes. Era uma sala sem grandes luxos, um sofá, algumas cadeiras, uma pequena mesa e um lindo quadro na parede. Não teve certeza se o quadro era uma réplica da Santa Ceia, mas bem que parecia. Avistou a senhora, que anteriormente tinha negociado ao telefone. Ela foi ríspida e demasiadamente objetiva:

- O senhor trouxe o dinheiro?

Ele acenou com a cabeça, pois a voz estava embargada, não sendo possível a sua vocalização. Sentou-se à mesa, entregou as notas que compunham o pagamento pelo serviço. A senhora se apressou, contou habilmente o numerário e o guardou dentro da blusa, junto aos seios.

Estava um defronte para o outro. Agora ele não poderia mais desistir. Ela o olhou fixamente, perguntou quando ele havia nascido. E depois começou explicar os benefícios e riscos envolvidos no negócio. Após breve explanação, ela diz:

- Então, acho que o senhor já está decido! Podemos realizar isso agora mesmo!

Abriu na mesa uma mapa que continha os doze signos do zodíaco. E perguntou:

-Para qual signo você quer mudar?

Ele suspirou brevemente. Depois abriu um grande sorriso astrológico !!