225 - A Tia
Ela ouvira vagamente que ele tinha outra família. Aos fins-de-semana, sem tirar o fato ou a gravata, ia para uma casa na periferia da cidade e cevava na amante os instintos mais carnais. Os filhos nasceram ali à beira da sanzala e cresceram por lá. Dava dinheiro e isso era a única coisa que dava, disse. E ela casou. Nem véu nem grinalda. Vestiu-se sobriamente e, após a comunhão, o padre abençoou-os. Voltou com aquele homem para a nova casa, esqueceu todas as coisas que amava e principiou a tratar da saúde frágil dele enchendo a despensa de chás para tudo, fazendo estranhas saladas de agrião, espinafres e amêndoas peladas a poder de água a ferver. Tudo sem sal e sem vinagre. Em dias santos pingava três gotas de limão sobre o todo oleado a azeite do melhor. Foi, um a um, enchendo-se de filhos, de normas secas e de terços, de missas e novenas, de conversas vazias com quem dividia a importância de ser agora rica. Um dia viu-se só no casarão. Saíram os filhos para estudar fora, o cão morreu e o jardim não a preenchia nem mesmo com os raminhos de violetas que murchavam num oratório onde se concentrava a santarrada iluminada por uma lamparina. Decidiu, já madurona e cheia de tédio, que seria estimulante aprender a nadar. Ele disse-lhe que fizesse o que entendesse. E ela foi com o seu recato aprender a nadar, em fato de banho de saia curta e touca de borracha. Admirado com o fato de banho quis o treinador saber se ela escondia algum defeito nas coxas ao que ela respondeu: - são perfeitas!