CHUVA DE ROLA.

"Chuva de rola."

Foi isso que lhe disseram quando chegou naquele vilarejo.

"Não tem erro, quando você chegar na margem do rio onde tem uma pedra enorme em forma de elefante, basta fazer um pouco de barulho que vai chover rola."

Uhúúú!

Cedinho.

Mal tomou seu café, escovou os dentes e pé na estrada.

Passos ligeiros e mente enebriada pelo que lhe esperava... "chuva de rola"!

Quem nunca? (Bem, é o que eu ouço, não o que eu penso.)

"Um é pouco, dois é bom..."

"Chuva de rola!!"

Quase lá.

Será mesmo, pensava ansiosa, mas quem lhe garantiu não era pessoa de mentiras. "Chuva de rola!!"

O rio...

A pedra!

Mais algumas centenas de metros e... "Chuva de rola!!"

Uhúu!

Passos apressados.

Coração acelerado e aquela expectativa... "Chuva de rola!!"

Mais alguns passos.

O local era bonito, muitas árvores, um vale onde o sol penetrava com seus rais brilhantes e agudos como flechas.

Um capinzal com cachos de sementes já maduras parecendo um trigal.

"Chuva de rola!!"

Ah, tem que fazer um pouco de barulho, lembrou.

Será que vem mesmo?

O "não" já tinha em mãos, não custava tentar.

E se aproximando do capinzal, pegol um galho caído por ali e bateu com força na ramagem pra emitir o barulho que chamaria 'seu sonho', a tão esperada "chuva de rola".

O pessoal do vilarejo realmente conhecia bem a região, e não demorou muito para...

Uma enorme nuvem de rolinhas, a rolinha-roxa, dessas pequenininhas que se veem comumente por ai, também conhecida como rolinha-barreirinha, rola-caldo-de-feijão, rolinha-caldo-de-feijão (Paraíba e Ceará), sangue-de-boi (Piauí), picuí-peão, rola, pomba-rola, rola-grande, rola-roxa, rola-sangue-de-boi (Pernambuco e Bahia), rolinha-comum, rolinha-vermelha, rolinha-juruti, rolinha-roxa e pomba-café.

Imortalizada na Canção de Waldemar Henrique:

(Rolinha)

"A rolinha sinhô

Eh…

A rolinha, sinhá pégue,

mas não deixe chorar

a rolinha da beira-mar

que piou, piou,

no meu coração

e é do meu sertão

Então vôa vôa vôa

rolinha vôa de papo pro ar

vôa vôa vôa rolinha

vôa pra beira-mar."

Elas viviam em abundancia nesse vale onde faziam seus ninhos nas árvores e arbustos por ali, e no verão, se alimentavam da abundante quantidade de semente dos capinzais.

Quem se aproximasse do local, bastava "um pouco de barulho" para espantá-las, formando assim a tão falada nuvem, ou (como diziam os mais engraçadinhos), "chuva de rola!"

Extasiada, a bióloga da capital passou o dia todo registrando imagens e informações dessas pequenas aves para seu estudo científico.