O GUISO DA CASCAVEL
Eu estava calmamente descascando uma abóbora para fazer doce, na cozinha da nossa casa na fazenda Vila Santa, quando o Caio (filho do caseiro) chegou correndo para me dizer que tinha uma cobra cascavel no local onde estavam as colheitadeiras de milho e a equipe de funcionários.
Fui correndo para ver de perto essa preciosidade do reino animal, que tem afinidade comigo, porque quando meus filhos eram pequenos e eu perdia a paciência com eles, saia distribuindo tapas por todos os lados. Eles iam chorando para perto do pai e ele perguntava ‘O que foi que aconteceu?”
Eles chorando respondiam: “a mamãe me bateu”.
Ele então dizia: “sai de perto da sua mãe, porque hoje ela está sacudindo o guiso”.
Quando cheguei, os trabalhadores tinham matado a cobra que, aliás, era muito bonita. Suas escamas, sobrepostas, brilhantes, formavam um desenho geométrico.
Quando olhei, não tinha guiso.
“como vocês sabem que é cascavel? Cadê o guiso?”
Um dos operários respondeu que um colega tinha tirado o guiso e guardado para ele.
Ah! Não deixei por menos: “como, o guiso me pertence, afinal a cascavel estava dentro da minha propriedade.”
Meu marido, todo gentileza disse; “deixe o guiso com ele”
“de jeito nenhum, agora que eu realmente tenho um guiso, vou deixar passar essa oportunidade?”
O rapaz foi buscar o guiso e me entregou.
Eu comecei a sacudir o guiso, numa imensa felicidade.
Estava realizada. Agora eu sacudia o guiso de verdade.
Falei alto e em bom tom:
“agora que eu tenho um guiso, me aguardem”...
Saí feliz, carregando o guiso e acompanhada do riso geral dos trabalhadores.
MDLUZ