222 Mudança de Idade
Sentado na cadeira do barbeiro e antes de ser tapado com o pano protector, viu no espelho, acomodado junto à coxa, o seu sexo adormecido. Ao tempo evitava falar porque nunca sabia se a voz saía com tom da criança que ainda era ou do homem que às vezes chegava no desacerto dos braços longos e dos pés excessivos para o que podia controlar com harmonia. – Em chegando a casa peço umas calças que, segundo a professora de física, já fico mal de calções. Será que também ela viu para lá da folga da roupa o bicho a espreitar ao lado da perna? Ela aludira só aos pelos e quase todos usavam, muito curtos, calções como os dele. – Faço também a barba? Perguntou o barbeiro fazendo-lhe chegar ao rosto todo o sangue que tinha. Sem saber como saiu, grossa, a palavra: - faça! Ainda atordoado pagou tudo, cabelo, barba e bigode. Como foi que isto lhe aconteceu sem se dar conta? Como se chega a homem assim, ainda cru para tudo, ainda sem respostas, ainda incapaz de aguentar o olhar de colegas mais afoitas ou até da mestra que, de giz parado na mão, lhe garantiu: - Julgas-te homem? Pois podes ter a certeza que te dou duas bofetadas sem qualquer problema. E ele baixou a cabeça e repensou, sem conseguir, a equação.