A VACA FOI PRO BREJO
Santinha era uma moça simplória que vivia com seus pais e mais sete irmãos numa humilde propriedade rural da cidade de Alfredo Wagner. Seus familiares a viam como uma pessoa fora da casinha tamanha era sua ingenuidade, pois tudo que a ela contavam, acreditava piamente serem verdades. Diante destes fatos, Santinha assumia o papel de “bobo da corte” da família, porém enquanto seus familiares assim pensavam e agiam, ela se sentia feliz e ria de todos sem eles perceberem. Houvera estudado até a quarta série, como os demais irmãos, pois era o que a escola oferecia aqueles que desejam estudar. Além disto era preciso caminhar longas horas até o centro da cidade afim de continuar seus estudos, porém o serviço na roça não permitia tais atitudes.
O tempo passara, Santinha como os demais irmãos cresceram, cada qual formando suas famílias exceto ela que não encontrara sua cara metade, ficando para titia. As lides da roça continuaram, porém, seus pais já envelhecidos reduziram suas presenças no campo. Seus irmãos seguiram com suas famílias, novos desafios em outras terras, ficando à mesma os encargos daquela roça.
Num dado momento aparece em suas terras Zeca Diabo, assim ele se apresentara, em busca de trabalho. Santinha meio desconfiada prometera dar resposta no dia seguinte, argumento prontamente aceito pelo “ilustre” visitante. O restante do dia fora focado naquela inesperada visita, assunto que consumira o restante do dia de Santinha. Ao contrário do que sempre pensara sua família, ela era muito esperta e soubera tirar proveito de sua possível “ingenuidade”. Na solidão de seu quarto entrava em transe imaginando ser amada, acariciada, beijada por uma virilidade descomunal, sem nada entender sentia-se uma pecadora, porém o prazer era maior que um simples sentimento de culpa. Resolvera manter em segredo esses momentos de prazer solitário. Mantivera-se casta até então, mas a visita de Zeca Diabo oferecendo mão-de-obra nas lides da roça despertara nela interesses além da conta.
Conforme combinado, no dia seguinte Zeca Diabo batera a sua porta em busca de uma resposta, se possível positiva. Apertos de mãos acompanhados de um bom dia e um sorriso malicioso, selam a parceria esperada por ambos. De um lado Santinha com segundas intenções, por outro lado Zeca Diabo em busca de trabalho, não menos diferente de sua nova patroa, alimentava segredos para com aquela que talvez pudesse resolver todos os seus problemas. Seus pais apesar do peso da idade, percebem algo no ar e diante desta constatação, passam a preocupar-se com o futuro de Santinha, afinal ela era uma moça recatada que nunca tivera contato com algum homem. Sua mãe ficara a pensar que sua filha nunca soubera ou tivera as necessidades que qualquer mulher sente ou sentira, inclusive ela que parira oito filhos em momentos prazerosos com seu viril companheiro. Um misto de saudosismo e frenesi se abatera sobre aquela velha mulher “preocupada” com o recato de sua Santinha.
Santinha e o Zeca Diabo formavam uma dupla excepcional. Nas lides do campo eram profissionais competentes sabiam comandar com maestria seus auxiliares, que no decorrer do tempo foram sendo agregados ao trabalho tamanha era a evolução produtiva daquelas terras. No calar da noite na alcova do casal, Santinha se transformava num vulcão exigindo de Zeca Diabo energia e virilidade acima da média. No dia seguinte ambos seguiam felizes para o campo despertando em seus auxiliares como também em seus velhos pais certa desconfiança de que a noite fora intensa. Pensamentos maldosos perfilavam algumas mentes, no entanto ninguém ousava expor em palavras com receio de punição como também manter respeito com seus patrões. Ficava a cargo de cada um imaginar como o casal se comportava em sua intimidade.
Tempos depois Zeca Diabo começara a dar sinais de cansaço provocando certa apreensão por parte de sua companheira de todas os dias e noites de volúpia. Não aguentando tamanha exigência por parte de Santinha, Zeca Diabo entrega os pontos informando à sua companheira não conseguir satisfazer o vulcão que existe nela. Santinha a contragosto aceita seus argumentos ciente que reside dentro de si um vulcão difícil de conter admitindo que a vaca fora pro brejo com corda e tudo. Zeca Diabo pegara a estrada sem rumo com sentimento de dever cumprido deixando na saudade Santinha, aquela que fora entendida pelos seus como o “bobo da corte”, porém escondendo com maestria um vulcão permanente dentro de si. Ah! Esse vulcão chamado Santinha, a vaca foi pro brejo...
Valmir Vilmar de Sousa (Vevê) 22/07/19