221 - Os Gémeos
Somos todos iguais? Perguntou a professora. Esse é o tema de hoje para a composição literária. E cada um dos alunos, após a primeira meditação sobre tão insólito assunto, tardou a começar a escrever. Houve quem dissesse que sim e defendesse a tese. Houve quem negasse veementemente a igualdade descrevendo apenas os colegas da turma. Uns bem vestidos e outros apenas com a roupa possível. Uns vinham de carro e a maioria a pé por falta do dinheiro para qualquer transporte. Ele, evocando a conversa do avô, disse da possibilidade de todos poderem adaptar-se às suas circunstâncias e a elas reagirem da melhor maneira. Todos tinham sangue, corpo com atributos semelhantes, gestos parecidos mas, vendo de mais perto, nenhum era exactamente a cópia de outro. Somos todos diferentes, somos únicos, afiançou. Riram os gémeos quando ele leu para a classe o seu pensamento. Mas, a seguir, um deles pediu para falar e disse: - Eu e o meu irmão somos quase iguais. Na verdade, durante muito tempo nos confundiram. Depois, fomo-nos individualizando à medida que crescia a acuidade e a atenção de quem nos via. Hoje, distintos, reconhecemos as nossas diferenças. Minha mãe distingue-nos pelos passos, meu pai só pelo modo de olhar e as nossas namoradas ainda têm dúvidas por não saberem de nós a subtil variação. Se deveríamos ser todos iguais? - De nenhum modo, concluiu.