PANDEMIA - PARTE V

Peste bubônica (novamente!), entre 1603/1613, surtos periódicos mataram quase um (repito: 1...) décimo da população londrina; aí, autoridades ("otoridades" atletas (?) negativas e descrentes é outra coisa!) baixaram quarentena após óbitos passarem de 30 por semana: antes, em 1592, bordéis e teatros fechados por 6 meses, doentes trancafiados por 28 dias em casa sob a vigilância de guardas que pintavam cruz vermelha na porta. --- WILLIAM SHAKESPEARE, sócio do Globe Threatre, escreveu na quarentena de uma doença que dava febre e dores terríveis, matava a partir do décimo dia, os mais vulneráveis (os então grupos de risco) entre 10 e 35 anos - por desespero, neste cenário de horror, também muitos suicídios. --- Já em fase madura, o bardo criou peças que se tornaram famosas, escritas de 1605 a 1606: 1-"Macbeth" - um personagem lamenta que naqueles dias expiravam-se "as vidas dos homens de bem antes de fenecerem as flores de sus chapéus". --- 2-"Rei Lear", peça muito deprimente - depois de 1603, não mais comédias românticas e sim peças mais sombrias retratando o desespero das ruas na época (JAMES SHAPIRO, professor da Universidade de Columbia, States, autor de "O ano de Lear" - Shakespeare entre final de 1605 e início de 1606, breve trégua da peste, a peça mais apocalíptica: todo mundo morre!) Na estreia, fins de 1606, corte de James I da Inglaterra, plateia nervosa com o rei louco: "plague", palavra usada para a doença, remetia justamente à peste. Autor passou a vida fugindo dela que já matava muito antes, ELE nascido quando a epidemia vitimou um quarto da população de Stratford-upon-Avon. --- 3-Na quarentena, compôs o poema narrativo "Antônio e Cleópatra". Em 1606, a peste matou sua senhoria em Londres. --- 4-Referências indiretas à doença, mas por causa da censura (já havia com a nudez de Adão e Eva, afinal folha de parreira ou de figo?!) não usada para matar personagens - recorria a terras distantes ou do passado para falar do presente. Sobre a sucessão da rainha Elizabeth I, a disputa anterior, "Ricardo III". --- 5-Em "O mercador de Veneza", critica a agiotagem em Londres e aparece muito a linguagem da contaminação. --- 8-Em "Noite de reis", apaixonado por Olívia, o duque Orsino diz que ela "purgava o ar de todas as pestilências", o amor não contagia a moça, mas as metáforas pestilentas sim - ela apaixonada por Cesário, lamenta: "Assim tão depressa pode alguém contagiar-se dessa praga?" --- 7-Na maioria das peças, referências à peste costumam vir de personagens irados. Em "A tempestade", o escravo Calibã amaldiçoa Próspero, duque de Milão": "Que a peste vermelha vos carregue". 8-Ao ser ferido, Mercúcio, amigo de Romeu, pede que a peste castigue os Montéquio e os Capuleto. A doença é responsável pela mais importante reviravolta, peça escrita nos anos 1590, quando frei João, impedido pela quarentena, não consegue entregar a Romeu a mensagem de Julieta. /// Os sonetos de WILLIAM são introspectivos que combinam com o isolamento.

/// 2020. Isolamento social imposto pela Covid-19 retornou leitores ao clima de antigas pandemias. "Uma coisa é ser jovem apaixonado e ler "Romeu e Julieta" ou, mais velho, entender as preocupações do pai de Julieta; outra coisa é acordar aflito, viver a pandemia do novo coronavírus..." (SHAPIRO). Como SHAKESPEARE reagiria-produziria agora no Brasil?

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Aditamento - Teatro - "Ricardo III", solo inspirado na vida do controverso monarca inglês do século XV, em cartaz há 5 anos, adaptação do bardo britânico (ou universal?): bastidores políticos, permeados por imoralidades na busca por certas ambições desmesuradas. Semanalmente, sessões seguidas por debates.

LEIAM meus trabalhos "Bardo britânico ou universal?" - Partes I, II e III.

"O bardo e a peste" (adapt.), de RUAN DE SOUSA GABRIEL - Rio, jornal O GLOBO, 29/3/20.

F I M

Rubemar Alves
Enviado por Rubemar Alves em 24/06/2020
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