Carrinho
Tiago era filho de um caminhoneiro, o que fazia com que tivesse a possibilidade de estar junto de seu pai poucas vezes por mês. Eram viagens longas, para lugares distantes aquelas que seu pai fazia, mas todos na casa já estavam conformados: tanto a mãe do Tiago, quanto seus dois irmãos, sabiam que essas viagens eram importantes, pois elas ajudariam no sustento da casa.
A mãe do Tiago não queria, de jeito nenhum, que seus filhos fossem caminhoneiros como o pai. Ela dizia que viver um ano inteiro praticamente dentro de um caminhão, dirigindo em estradas perigosas, esburacadas, escuras pela noite, encontrando as mais diferentes pessoas que não se pode confiar, não era uma vida boa de ser vivida. Sua mãe, quando o seu pai estava ausente, sempre dizia para ele Tiago, e para seus irmãos, que o importante era estudar, para ter uma profissão no futuro mais segura que a do seu pai.
Mas não tinha jeito! Pelo menos da parte de seu pai, e sobretudo quando ele chegava de viagem. Ele sempre trazia presentes e, geralmente, eram carrinhos e caminhões de brinquedo. O pai de Tiago fazia isto no sentido de tentar mostrar para ele e para seus dois irmãos, a beleza que era dirigir, a maravilha que era ser caminhoneiro. Tiago não ligava para os presentes. Não tinha a mínima vontade de ser caminhoneiro. Na verdade, não sabia exatamente o que queria ser no futuro.
Porém, teve um dia que o Tiago não esqueceu. O seu pai chegou da viagem com um presente que chamou a atenção do Tiago. Era um carrinho, como das outras vezes, mas, este carrinho era especial, pelo menos para o Tiago.
Este carrinho era todo feito de metal e pintado de verde claro com detalhes em preto na porta; as suas rodinhas eram de borracha preta, com os aros dourados. Quando o Tiago abria a porta do carrinho, ele podia ver todos os detalhes por dentro: os bancos eram brancos, o volante marrom e a alavanca de marcha azul. Tinha cinto de segurança laranja em todos os bancos e um bonequinho sentado no banco do motorista. O bonequinho era vermelho.
O carrinho cabia na palma da mão do Tiago. O Tiago, que até então não ligava para caminhões e carrinhos, começou a imaginar que ele era aquele bonequinho vermelho que dirigia o carrinho verde. O Tiago sentiu toda a velocidade enquanto brincava com o carrinho. O Tiago agora era piloto.
São José, 21 de junho de 2020.
Cleber Caetano Maranhão