21, O Século Que Não Começou (Prólogo)

"É certo que o século XX deixou marcas históricas profundas, através das ações do homem e isso viria a se refletir num futuro próximo. O problema real é que esse 'futuro' nunca chegou de fato. Não aqui...

Já perto da minha terceira década de vida, não há sinais de que o mundo tenha realmente mudado. A ilusão da mudança ocorreu pois passamos a nos ver em telas médias, e depois em telas cada vez menores, mais rapidamente, mas não todos nós. Alguns ainda não receberam a boa nova do novo século. Tantos outros, não tão longe daqui, encaram a dura realidade ainda do pós-alforria. Um mundo todo construído e projetado para ter uma base firme, forte, com vigor do trabalho duro e necessário, mas que serviria apenas como sustento. Um edifício alvo, posto sobre as fundações mais sofridas e discriminadas. Andar após andar, suas marteladas e estacadas contra a base davam a ilusão de segurança, e a impressão de que atingiria inevitavelmente as nuvens onde o mundo mais o veneraria. Esse monumento secular, contudo, não teve o projeto mais fundamental de construção e que viria a ser o causador das suas rachaduras: Uma base que teria consciencia de si própria e não mais sustentaria o peso de um estamento tão insensível.

Tudo aquilo que sempre foi e sem algum motivo aparente de o ser começou a tomar forma diante dos nossos olhos. Números ganharam nome. A tela ficava vermelha enquanto a pele ficava roxa e dilacerada. As vozes que eram um burburinho na periferia das nossas atenções virtuais invadem nossa percepção global. Uma chave de tamanho colossal, quase imensurável, começa a ser virada em nossas mentes. O sorriso se torna em pranto, o calor do sangue se converte em arrepios e ranger, o semblante já não sustenta o peso da angustia e se volta ao centro do rosto como uma flecha em formação pronta a ser lançada em direção a um alvo tão grande que seria impossível de errar. E embora os esporádicos donos de toda essa terra vejam na solução para acalmá-la fazer uma plantação abrupta, com suas sementes de aço puro, os seios férteis de amor e esperança são vastos e numerosos demais, e nem mesmo a argila deles convertida em semeadores pode lidar com o terremoto que estava por vir..."

(Este texto é um teste para a criação de um estilo próprio de narrativa que mistura estilos literários e movimentos culturais que vão desde as variações Punk, até a abordagem direta e histórica de temas políticos e sociais).