ARROGÂNCIA DE UM TIRANO

  A sirene tocou e o extenso pátio se encheu de homens e mulheres que saíram de um corredor escuro e fétido. Maltrapilhos e magros se mostravam surpresos, admiravam o céu azul com algumas nuvens brancas, com largos sorrisos se entreolhavam sem entenderem o que estava acontecendo. Crianças ensaiavam pulos de alegria, velhos se abraçavam e eram imitados por outras pessoas mais jovens. Depois de alguns minutos, não foram mais do que uns dez, a sirene enfim parou de tocar. Um silêncio geral se estabeleceu no pátio, todos pararam com a pequena algazarra que se iniciara no aguardo do que mais poderia acontecer. Do alto de uma sacada do imenso forte uma figura apareceu vestida numa túnica vermelha, todos a reconheceram apesar de fazer um certo tempo que não a viam.

   Ali se via enormes portões de madeira e muros altos, soldados fortemente armados estavam de sentinela em pontos estratégicos da imponente construção de estilo colonial, tanto na parte de cima dos muros como no térreo, monitoravam atentamente os presos sem se importarem com suas condições físicas. Alguns estavam em estado de demência, para esses era um momento de felicidade, enfim estavam fora de suas celas onde não viam a luz do sol, esse era o momento propício para aproveitarem. Um ou outro tentava correr e era abatido a tiro covardemente pelo guarda mais próximo. Os demais se prontificavam a recolher o corpo ou corpos ensangüentados estirados no chão.

   A figura arrogante do alto estendeu a mão e um auxiliar retirou a sua túnica vermelha colocando-a de lado em um cabide. Por outra branca foi trocada. Era um homem barbudo de olhos azuis, sua aparência metia medo até em seus adjuntos que o temim, vez ou outra um era admoestado e até morto por não tratá-lo como exigia. Já vestido chegou até a sacada e olhou aquele espetáculo grotesco, riu debochadamente. A um sinal dele todos se ajoelharam, ai daquele que assim não procedesse, seria imediatamente abatido.

Aquelas criaturas eram inimigos capturados durante confrontos, eram pessoas que se recusavam a pagar os altíssimos impostos a que eram obrigados a pagarem, sendo presas junto com suas famílias para trabalharem de graça para o tirano e mantidos presos em masmorras fétidas e com alimentação precária. Como esse tirano existiam outros em suas imensas fortificações. Ao final, depois daquele "espetáculo" que o satisfazia, o tirano mandava que todos fossem para suas celas.

Moacir Rodrigues
Enviado por Moacir Rodrigues em 17/06/2020
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