A excomunhão -BVIW

Duas covinhas ao sorrir reforçavam a beleza acima da média. Os rapazes imaginavam-se super-homens ao seu lado. O dever de corresponder a um super-amor vinha-lhes à mente. Porque Mabel era doce. Seu charme era hipnótico, sua simpatia vibrava à flor da pele morena. Curvas perfeitas nos detalhes dos lábios, das unhas, das sobrancelhas, do corpo. Apesar de não faltar torcida para que seus namoros tivessem finais felizes, os rapazes sempre desistiam dela. Diziam que não estavam à altura de suas qualidades, que ela não era moça para amor inacabado vindo de homens comuns. Não bastava serem bons, precisariam ser ótimos para merecê-la. E assim Mabel viu-se em idade madura, bela e só. Uma tardia esperança surgiu quando conheceu Antônio. Sem arredar pé dos tradicionais padrões morais, ela rezou, fez novenas para que desta vez o casamento acontecesse. Sentia-se plena ao corresponder às expectativas do pai que não desistiu de vê-la vestida de branco, dizendo o sim diante do altar, honrando a memória da mãe, como o fizeram suas irmãs. Uma gravidez fora dos planos fez sua cabeça girar. Não admitia decepcionar o pai, nem ser a responsável por prováveis censuras morais à família dele. Numa honesta confissão ao Padre Afonso, teve como resposta a proibição de frequentar a igreja, por se tratar de ato pecaminoso grave. Desnorteada, decidiu abortar seus sonhos. Um choque séptico sobreveio e a levou. Seu corpo foi enfeitado com flores brancas e a vida perdida no ventre cobriu-se de silêncio. Braços fortes seguraram as alças do caixão. Estranharam o pouco ou nenhum peso. O Padre Afonso, que fez questão de encomendar o corpo, jurou que seus poderes sobrenaturais o permitiram ver dois anjos pairarem sobre o caixão e em seguida subir aos céus. Aos amigos restou a doída fatalidade. Para a família ficou a certeza: pecado grave é não amar.

Maria do Carmo Fraga (Mariana Mendes)
Enviado por Maria do Carmo Fraga (Mariana Mendes) em 16/06/2020
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