O OUTRO LADO DO AMOR INACABADO - BVIW




Não há nada como um rio que corre sem volta, mesmo quando por ele alguma roupa... retorna.

E assim Dona Lília encontrara a roupa do filho perdido. Depois de passado pelo desespero dramático e cruel do tempo carregando dores que não cabem no coração de uma mãe, ela sabia o que ao dela caberia. Aquele seu coração que era cheio de sua criança junto as melhores projeções para sua vida.

Aquela sensação de banhar-se em uma melancolia irreversível que por vezes se deixava ninar por trechos de canções como: Oh, pedaço de mim, oh metade arrancada de mim... Era a de todas as horas.

Agora ela sabia que não existia amor mais inacabado do que o de perder um filho. De quantas terapias precisaria para se ver livre de uma dor que não tem nome? Dona Lília passou a colecionar histórias deste tipo de perda. Do tipo que a comida esfria sobre a mesa. Do tipo em que as pontes parecem mais fortes que as represas.

Frustração, depressão, sonhos desfeitos, projetos perdidos junto as razões da genética. Um mundo de sombras que podem gerar patologias indigestas. A sofrida mãe passou a confortar essas pessoas como forma de se confortar.
E as levava no rio até o joelho a água alcançar. E cantavam tears in heavens como forma de homenagear cada perda. Mas a morte não tem viço! Dona Lília sabia disto.

E passou a presidir o rio que corria sem volta, trazendo para essas vidas uma roupa nova.

                                                                     imagem google
Marília L Paixão
Enviado por Marília L Paixão em 16/06/2020
Reeditado em 18/06/2020
Código do texto: T6979001
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