As Estrelas

Pendurado na janela.

Desde criança ele ficava ali por horas, sempre de noite, olhando para o céu e contando as estrelas.

Ao contrário das demais crianças ele não queria ser nada. Queria somente estar junto das estrelas, poder tocá-las!

Sempre ouvia a sua mãe gritar – Pára de apontar para as estrelas que vão te nascer verrugas! – ou então seu pai – Se continuar olhando pro céu vai ver estrelas de verdade quando eu lhe acertar a cabeça no chão! – e ainda seus amigos – Eu hein... Coisa de mariquinha! –.

Para ele pouco importava o que os outros pensavam! Olhar para elas já era o suficiente.

Já o completava.

Por não querer nada além delas perdeu amores, amigos, festas, perdeu a infância...

“Eu não preciso de nada além delas! Nem de meus pais, nem meus amigos”.

Essas frases foram ditas apenas uma vez.

Antes mesmo que ele pensasse em consertar o que havia dito sua mala já estava pronta. Iria para a casa da avó, no interior.

Ele sem voz para dizer que não, nem gestos que dissessem, apenas pegou sua pequena mala e partiu em direção ao carro.

Não derramou uma lágrima se quer. Embora sangrasse por dentro.

Quando chegou a casa de sua avó, aguardou ansiosamente a noite chegar.

Não houve estrela, nem lua, nem nuvens.

Apenas o céu estava lá manchado de preto fazendo o luto.

Esse luto durou um mês.

Até que, se compadecendo do menino, o céu resolveu chorar. Chorou tanto que os rios transbordaram... A lua vendo toda aquela tristeza, resolveu aparecer para lhe trazer a sua luz.

O garoto, mesmo com toda a chuva, saiu e foi para o quintal olhar a lua na esperança de ver também as estrelas.

Elas não apareceram.

Não naquele momento.

Aos poucos, uma a uma, elas vão brilhando enquanto o céu para de derramar suas lágrimas. Na margem do rio ele vê o reflexo da lua e das poucas estrelas que apareciam.

E, de repente, como que por miragem, ele vê uma estrela solitária dançando um lindo balé.

Bem na sua frente!

E quanto mais ele se encantava com o que via, outras vinham para completar a coreografia mais linda que ele já havia visto.

Até que uma passa tão perto dele que ele quase a toca!

Hipnotizado pelas estrelas, ele vai lentamente entrando no rio.

Com as estrelas dançando ao seu redor.

A lua, as estrelas do céu e as estrelas bailarinas refletidas na água foram as coisas mais lindas que ele viu na sua vida.

Na sua curta vida.

Foram as últimas coisas que ele viu.

Sem se dar conta da forte correnteza, foi arrastado dali para onde Deus achou que seria o seu lugar.

A lua ficou cheia por causa dele.

As estrelas brilharam como nunca.

E as estrelas dançantes, que não passavam de vagalumes, fizeram um triste e silencioso cortejo até a hora em que o sol apareceu.

LéoGomes
Enviado por LéoGomes em 14/06/2020
Reeditado em 13/10/2020
Código do texto: T6977576
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