SANTO ANTÔNIO ACHADOR

A lenda diz que ELE é casamenteiro e ajuda também a achar objetos perdidos.

Para não desgastar-arranhar o conjunto mais caro de talheres iguais, faqueiro, ELA usava avulsos no dia a dia, moradora sozinha na casa: três facas desiguais, um garfo, DUAS colheres comuns, uma comprida de mexer líquidos e duas pequenas para o ato de adoçar. Bom, veio um auxiliar para faxina, lanche farto no meio do dia e mais tarde a moça deu falta de uma colher grande. Num outro dia, perguntou e o tal senhor não soube responder com precisão. Teria caído no lixo ou levado para uma cozinha externa onde fora fazer café para o pessoal da casa grande? Não achou no meio de outros talheres: tudo bem, paciência, não perder à toa um bom colaborador.

Havia no móvel da sala, gaveta de miudezas, um par nunca usado - colher (damas primeiro na era feminista!) e garfo, brinde na compra de... três quilos de sabão em pó: qual a relação? A diferença em desenhos diminutos nos cabos dos talheres, mas não para ficar olhando detalhes todo dia, arrumadinhos numa prateleira sob a pia da cozinha. Pegava ao acaso uma colher grande para refeição, lavava, mesmo lugar: duas colheres, duas, duas... nem menos nem mais. Mora sozinha e só raramente alguém entra para trocar uma lâmpada, digamos.

"Do céu, só cai chuva", ditado antigo.

Esta manhã, 13 de junho, lavou e arrumou o louceiro de ontem, largado na pia, começando pelos talheres. TRÊS colheres! Como possível? Então, ELA teria convivido o tempo todo com as três nunca juntas? Uma "a serviço", duas lavadas na vasilha de repouso. Provavelmente.

Nesse tempo doido de política totalmente anárquica e covid assustador, até objetos são enigmáticos.

F I M

Rubemar Alves
Enviado por Rubemar Alves em 13/06/2020
Reeditado em 13/06/2020
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