Drica de Caboto
Dona Drica era uma moça prendada, com mãos habilidosas para os quitutes e um temperamento forte. Apaixonada por Rebouças, um soldado combatente de guerra, que desapareceu no campo de batalha. Drica de Caboto, como ficou conhecida, todas as tardes dirigia-se ao cais de Caboto para mirar o horizonte, na doce ilusão de reencontrar o amor de sua vida.
O jovem, antes de partir, prometera casar-se com a moça. Um anel do chiclete ploc foi o sinal do compromisso. Dez meses sem notícias, idas e vindas, atravessando ponte, rompendo barreiras e chacotas; continuava com o olhar pidão. Um porto que não era seguro oferecia-lhe abrigo, sem sentir o perigo, resolveu adentrar à noite para esperar.
Sempre levava uns petiscos dentro de uma cesta de vime e algumas rosas para enfeitar. Lá pela meia noite, era sexta-feira 13, foi banhar-se no mar. Cansada de ser motivo de piada, resolveu relaxar; fechou os olhos e fez um pedido para a rainha do mar: - Yemanjá, mãe dos navegantes, traz de volta o meu amor, que encontra-se distante!
Nem que seja, uma última vez! De repente, uma cortina de fumaça formou-se na praia e no meio da ponte um vulto tomou a forma humana. Era Rebouças, seu cavaleiro sem alazão, com um sassicaia na mão e um ramalhete de flores.
Correu desesperadamente, a emoção tomou conta da razão e abraçou-o loucamente. Sem dizer uma palavra, os amantes sufocaram-se nos desejos adiados. A lua mergulhou no mar, acordou o sol, e o dia raiou. Entre as ondas e a areia, a cesta de vime e uma garrafa vazia desapareciam nas brumas do mar.