A procura das tábuas perdidas (BVIW)

Estava acostumada, de vez em quando a perder chaves, brincos e até as pétalas de rosas que guardava entres as páginas daquele livro especial, no entanto, hoje ao acordar e depois aconchegar-se à janela para admirar a chuva que começava, teve a sensação que lhe faltava algo...

Curioso e instigante sentir esse vazio e, ao mesmo tempo, a plenitude dos desafios que essa busca inspira. Assim, pensativa lembrou-se de um conto que escrevera há alguns anos: O Gato Azul - e voltar às imagens do sonho lhe fez bem, foi como se delicada e misteriosa porta abrisse e pode, vislumbrar-se passeando nos campos floridos com margaridas, olhando seu reflexo e do enigmático gato num antigo espelho, hipnótico êxtase.

E continuou sua caminhada naquele cantinho especial, desenhado em sua mente com letras inclinadas, sentindo o vento da imaginação, impulsionando a rever sua vida, ATRAVESSANDO PONTE, mesmo que algumas tábuas estivessem faltando, e o espaço entre elas a deixava próxima de uma queda iminente, abissal... um inevitável diálogo com a Morte para sentir, sem medo, o pulsar belo da Vida.

À moça do ‘gato azul’ permanece à procura das tábuas perdidas, talvez, esquecidas entre amores e ausências, preenchendo com disfarçadas metáforas e rendas de uma saudade intensa, esses espaços reais e surreais, tecendo a cada anoitecer a lembrança de um inesquecível rosto, inefável beijo...