PANDEMIA - PARTE II
"Toda família com dores e lágrimas de saudade, toda rua era um hospital" - palavras descritivas de JOSÉ PEREIRA REGO, médico, Barão do Lavradio, na descrição do flagelo da febre amarela no Rio em 1850, deixando 4.160 mortos, primeira grande epidemia que assolaria o Império, em 39 crises de surtos variados, da cólera ao sarampo durante 20 anos. Uma justificativa seria a topografia da cidade e as péssimas condições sanitárias sem obras e reformas urbanas. Vaidade de francesismo + necessidade vital, surgiu a partir de 1903 o "bota abaixo" do prefeito Pereira Passos, novos aspectos da metrópole, europeização da antiga capital, inspiração nas intervenções de Georges Haussmann em Paris, mas que pouco ajudaram a solucionar problemas arcaicos que ainda perduram. Alargadas ruas cariocas e abertas avenidas - Beira-Mar e Central (hoje Rio Branco). Argumentos higienistas calcados pelas epidemias - febre amarela, peste bubônica e varíola. Como reforma federal, a modernização do porto e programa de saneamento e ações de saúde sob comando de médico sanitarista, Osvaldo Cruz. Em paralelo, a derrubada de cortiços e estalagens, camadas pobres expulsas para subúrbios e morros logo ocupados - Providência e São Carlos. Moradias sem abastecimento regular de água ou emaranhado de barracos insalubres, acúmulo de tuberculose. Poucas vilas operárias. --- Após o corona, mudança de direção em busca da equidade: universalização da água e do saneamento básico? --- "Olha o corona aí, gente!" E o carnaval do vírus reapareceu, a moradia popular agora exigindo mais atenção das "otoridades" - casas de favelas, nomenclatura atual 'comunidades', necessitando "urgente posição central nos projetos de urbanização", afirma o arquiteto e urbanista WASINGTON FAJARDO, ou a Covid-19 avançará cada vez mais nos lugares inóspitos, tristes habitações (humanas?) sem saneamento e ventilação adequada, muitas vezes sem água direta. (Não deveria ser ainda o tempo da "lata d'água na cabeça", antiga canção popular... Nada de visão "romantizada" da favela - "teu barraco no morro do"...) O urbanista defende medidas para retirada de casas em área de risco e contenção do crescimento desmedido e desordenado das comunidades - saídas como construção de habitações populares. Como se explica hoje o literal retorno de vergonhosos cortiços urbanos perto do centro das cidades? Justamente habitações coletivas foram um dos principais "bota abaixo" no início do século XX.
FIM