Encontro
O posto seis estava relativamente vazio. Era sexta-feira e algumas famílias aproveitavam os momentos de folga para sentir o sol na pele e a areia macia e branca sob os pés, compondo o cenário observado por quem passava apressado e afoito pelo calçadão rumo aos afazeres diários. Diante do mar, estavam pessoas acompanhadas da leitura habitual, grupos de poucos amigos e alguns pontuais casais de namorados.
O mar estava agitado e trazia à memória a antiga história da ressaca que afogou a Avenida Atlântica e fez morrer na praia os livros de Truman Capote, arrancados com raiva das mãos da biblioteca Thomas Jefferson, alagada e impotente. O mar que, se nessa situação estava insatisfeito com o cenário político nacional, deveria ter se planejado de forma mais eficiente antes de atacar e tratar a todos como inimigos, deixando pela praia e pelas ruas apenas objetos partidos ao meio. Ele agora, novamente se revolvia em sua intensidade e beleza.
Os poucos casais presentes conversavam tranquilos e olhavam-se com os olhos quase fechados por causa da grande luminosidade. Olhos sem retórica, sem nadador para tragar e sem o arrastar para dentro, que era privilégio somente dos olhos de Capitu, aquela cigana oblíqua e dissimulada capaz de despertar os mais insanos ciúmes. Assim, poucas pessoas chegavam e transitavam com suas cadeiras e toalhas coloridas e com suas bebidas na mão diante do mar, evocador dessas e de tantas outras histórias.
De súbito, contrariando a habitual serenidade do local, uma onda, sem avisar, levantou-se altiva e pregou uma peça em todos os presentes, arrastando bolsas, chinelos, carteiras e camisas, erguendo-se até próximo aos quiosques, deixando preocupados os transeuntes e banhistas distraídos, agora encharcados de sal e susto.
Ao longe, um rapaz observava a cena. Ele caminhou calmamente sem retirar os olhos das ondas que se aproximavam. Arrumou o bonito boné, passou as mãos pelos claros cabelos, protegeu-se atrás de grandes e luzentes óculos escuros e caminhou em direção ao posto cinco. Ele fitava o mar com atenção, como alguém que espera alguma resposta de seu interlocutor.
Nesse momento, uma nova onda raivosa se levantou, cobrindo toda a faixa de areia, e o menino, atendendo ao seu chamado, atirou-se, recebendo do mar o seu último abraço.