Além do horizonte

Dona Marilene, no domingo de muita chuva e barulho. Deitada em sua cama sem muito o que fazer, sem qualquer opção, pois dia de domingo e na semana na tv, nada se tem de atraente. Acabou cedendo as tentações do seu smartphone, porque alguém lhe enviou a informação, através de um vídeo, de que no posto de saúde local, próximo a sua casa, em tempos de uma pandemia europeia, que ainda estava engatinhando em nosso país já estaria ali o primeiro caso.

No vídeo a enfermeira colocava o seu cargo à disposição do governo, entrara em pânico juntamente com várias pessoas que ali encontravam-se para se consultar, quando um paciente entrou tossindo bastante, com febre alta e com muita falta de ar.

Na triagem a paciente disse que era funcionária de alguém que tinha chegado da Europa e todos ficaram muito assustados no pronto atendimento.

Sem saber o final do vídeo tomando conhecimento daquela situação, dona Marilene se desesperou e perturbou o marido para irem pra casa que eles tinham no interior.

Dizer ela:

- o nosso país não está preparado nem pra doenças simples que dirá uma pandemia. Nós somos do grupo de risco e iremos morrer se ficarmos por aqui.

O homem nervoso e atônito com as informações tentou acalma-la:

- calma mulher não é assim. Por favor tenha calma, vai ver é uma montagem.

Mas ela irresoluta, a beira do histerismo completou:

- se assim fosse não estariam circulando com esse vídeo. Seria irresponsável montar isso.

Ela sob os efeitos do desespero mostrou mostrou vídeo as suas filhas, que de pronto concordaram com ela.A insensatez ocupou os espaços da casa. E teve um upgrade maior, quando a filha menor de idade ligou a TV e viu a repercussão nacional da Pandemia , que seria a responsável pela morte, pela exposição do caos no sistema de saúde em todo o país, da guerra política travada entre o presidente e vários governadores, da falta de estrutura educacional e cultural, sobretudo de mais um capítulo da corrupção exacerbada e do descompromisso dos nossos governantes para com o povo.

Definitivamente, o caçula fez o seu alarde e adequadamente falou:

- vocês não sabem o que estão dizendo, mãe. Eu já pesquisei e o que deve ser feito nesse momento é tomar algumas precauções como usar máscaras, evitar sair de casa desnecessariamente e usar álcool gel número 70. Na minha ideia é que o senhor covide 19, veio nos dizer que chegamos a era digital, que mais importante que empregos, bares, dinheiro, laser é o prazer de estar em casa com a sua família.

Aplaudido pelo pai, o filho em sua consciência ascendente completou:

- não é hora para pânico, mas para nos solidarizarmos com quem precisa de ajuda e pra quem está doente ou perdeu alguém nessa corrida pela vida. Foi aí que ele ganhou o posicionamento da filha mais velha:

- É mãe… Ele tem razão. Não adianta a gente se desesperar. Temos que nos unir, mesmo distante pra combater todo esse mal, que nos atinge. Afinal, além de todo mal, tem uma esperança. E siguiu dizendo:

- A novidade nos assombra, mas vamos ter calma para lutar por nossa sobrevivência. Agora pra se mais exato é hora da família e Deus.

E todos na casa foram pisando no freio gradativamente. Foram acompanhando as mazelas. Entrando e saindo das proibições impostas para conter a doença, bem como driblando as dificuldades, que variavam entre a financeira, educacional, de saúde, lazer e tantas outras por estarem em harmonia e em casa. Assim, no final da tarde o pai disse baixinho a mãe: nem sabia mais o quanto era feliz com vocês e os dois se abraçaram, enquanto a chuva caía momentaneamente molhando copiosamente as flores do jardim.