Ela tinha um futuro tão brilhante

Jéssica, todos os dias, saía de casa com sua mochila nova nas costas.

Aquele unicórnio com chifre colorido era a sensação entre as amigas.

Ela não tinha o costume de usar o uniforme da escola antes de chegar no portão. Sempre vinha com uma roupa diferente, e as amigas achavam o máximo essa "liberdade" tão precoce.

A escola era simples, típica da rede de ensino público do governo municipal de lugar nenhum, cidade em que vivia.

Ela tinha um futuro tão brilhante.

De um sorriso fácil, um olhar de jabuticaba penetrante e cabelos cacheados que chegavam à cintura, Jéssica chamava atenção aonde fosse.

Aquela mochila de unicórnio nova, com um chifre colorido na cabeça, era sensação.

Ela tinha um futuro tão brilhante.

Pena que não era o único a perceber isto, e em um desses dias em que ela saía de casa para aprender um pouco mais, para amar as amigas um pouco mais, para brilhar um pouco mais…

Uma escuridão se apossou dela no caminho à escola, enegreceu aquele sorriso fácil, derrubou dos olhos de Jéssica aquelas jabuticabas lindas que possuía.

O unicórnio não foi a sensação nesse dia, a mochila nova chegou vermelha, e o chifre colorido desbotou.

A "liberdade" ficou cativa, e os cabelos que corriam até a cintura se cansaram.

Ela tinha um futuro tão brilhante.

Mas uma escuridão se apossou dela, e Jéssica nunca mais foi a mesma.

Lucas Rodrigues do Carmo
Enviado por Lucas Rodrigues do Carmo em 24/05/2020
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