No tempo das Invenções
Enquanto algumas mães do beco acordavam e iam a tina de roupa, mesmo com água escassa, por haver só uma torneira para lavar aquelas imensidões de trouxas, outras saíam para trabalhar nas fábricas de castanha, as fábricas de corda, de lata ou de tabaco que se localizavam às proximidades. Os avós, que não estavam debilitados por nenhuma doença, faziam uns papeis ajudando nas tarefas domésticas e os pais, quando quando a família tinha esse representante, em sua maioria trabalhavam nas pequenas empresas de refrigerante, marcenarias, cervejarias ou na feira do ver o peso... nos açougues, nos pequenos box vendendo farinha, nas mercearias, nas padarias ou outras coisas para se manter. Aquela era uma época muito difícil… Ditadura no ar, subempregos e muitas necessidades. No entanto, as crianças e os adolescentes daquele período se divertiam como podiam, ou melhor, de acordo com as condições de cada um, mais precisamente de cada família. Muito embora houvesse o traço forte da desigualdade social, que eles sabiam transpor aquela barreira vivendo a vida de forma simples, como deve ser vivida.
Assim, um dos muitos sábados e domingos bem ensolarados,os meninos de folga da escola se juntavam e conversavam bastante. Falando e falando de filmes, que assistiam, no caso de quem podia assistir. De novelas a desenhos animados, bem como de futebol, que aliás era o máximo das brincadeiras, em suas realidades e que já estava certo da acontecer a tardezinha ou até cansarem de expor a veia artística, melhor dizer cientista.
Cada um no seu canto e com suas amizades mais próximas, dentro de suas criatividade face as suas limitações procuravam fazer alguma coisa. Guilherme chamava Ozemar para brincar de peteca o fura fura; Bidó com seus irmãos fabricavam ônibus de lata de óleo Jaçanã e saiam pela rua. Enquanto perereca exibia o seu fusquinha azul com rodas de rolimã, Abelardo e Júnior desenvolviam outro carrinho bem grande, pensando em vencer a corrida na descida da rua recém asfaltada, enquanto do alto de seu bangalô Tinho e Adevaldo empinavam uma rabiola, com o rabo medindo dez metros. Por sua vez aldenir, Nando e outros mais velhos se orgulhavam de erguerem no ar também, aquelas cângulas e aqueles papagaios imensos; a se aproximarem do Manuel Pinto da Silva, fazendo em conjunto com outros meninos de várias ruas o céu ficar todo colorido.
Betoca e Ginoca faziam amassadeira de lata de leite ninho; Pedrinho e Mococa faziam de isopor um barquinho e apensavam nele um motor a pilha, como se fosse uma rabeta dentro da vala a atropelar os barquinhos de papel feitos por sapinho.
Botinha fazia uma imensa perna de pau, enquanto Paulinho equilibrava uma roda de carro de beber no arame e Careca sem poder sair de sua casa, por ordem de sua mãe, da janela jogava vários aviões de papel. Nazo, Codó é Camarão faziam bolinhas de sabão e o resto dos garotos brincavam de pião, jogavam uma pena amarrada numa pedra pra correr atrás, onde o vento nervoso a levasse em paz. Tadeu,Dan,, Bibito e Antônio, com Japona, Neném e Gilberto adiantavam os jogos de futebol de botão, com fichas de refrigerantes, onde todos; adolescentes, adultos e crianças da rua participavam.
Avançava o dia e todos com as suas invenções exibiam-na, deixando cada qual mais curioso, a ponto de querer ter igual ou melhor. Mas tudo numa perfeita sintonia.
Eles se juntavam, como os continentes e compartilhavam ent si essas tantas invenções. Aos poucos Betoca e Ginoca aprenderam a fazer ônibus de lata acrescentando velas dentro deles para iluminar a noite.As pernas de paus sofreram aperfeiçoamento das mãos de Paulinho diabo, que o fez na versão lata de leite ninho e fio; enquanto Mococa e Pedrinho trouxeram à vista de todos um telefone de fio e lata de leite condensado. Já Ozemar apresentou-se com uma sarabatana de dois canos; Afonso trouxe o avião de lata, enquanto o gato Ronaldo com o Papagaio se divertiam com brincadeiras, como as notas de marcas de cigarro, juntando com as de fichas batidas de refrigerante que Pacotinho e Jorgemano disputavam ao perelhar nas paredes. Bido com os seus irmãos já faziam alarde com as suas espadas de cabo de vassoura, sendo atropelados por Abelardoca, Vum, Jorginho,Pereca, Miguel, Sapinho é Paulo Catitu correndo na rua, com revolveres de pau na aventura de polícia contra ladrão.
No outro dia porém, Ginoca, Betoca , Guilherme, Arthur, botinha, Nelson e ozemar inventavam Curicas para empinar. E quando elas ganhavam altitude invadindo os seus da rabiolas, papagaios e Cangulas todos comemoravam com muita alegria. As meninas, presas muitas vezes a cultura de ficar ajudando a mãe na cozinha ou passando roupa; quando tinha uma foguinho brincavam com suas bonecas de plástico duro, com suas cozinhas de copos e garrafas de remédios, fogões de latas, redinhas para as bonecas, de punho das redes, brincava de casinha, bambolê, de macaca, pula corda e queimada, bate fica, figurinhas ou bole bole, mas também esperando é claro, pelo fim de tarde, onde elas poderiam se soltar mais.
Após a pausa para o almoço, a cesta sagrada, os avôs se juntavam pra jogar dama e dominó, enquanto os garotos se lançavam no futebol.
Quando a noite caía sob o acender e apagar da luz de propaganda do guarasuco no alto do Manoel Pinto da Silva, a lua marajoara valsava nas águas da baía do Guajará acompanhada pelas mangueiras. A cidade se dividia, ficando entre o ar de desenvolvida e o de interior. Algumas casas com energia elétrica e outras à luz da lamparina ou do candeeiro.
Assim, algumas mães e pais, depois da chegada do trabalho, mesmo cansados de serem explorados. Banhavam-se, jantavam e quem podia e tinha iam ver novelas na televisão, enquanto outros que não tinham a tecnologia à mão se valiam das serestas dos grilos, vaga lumes e cigarras nas árvores dos quintais a estimula-los à conversar com os vizinhos a porta de suas casas e também vigiar seus filhos e filhas que se juntavam a noite pra rirem, contar histórias, cismar e brincar de rodas , ciranda cirandinha, bandeirinha, polícia e ladrao, pata cega, pular corda, macaca, boca de forno, cair no poço, queimada e tantas outras diversidades, que estão bem guardadas na mente dos protagonistas daquela revolução indireta, contra todas as leis de suas casas e desigualdades impostas e pouco percebidas,que ainda hoje persevera, talvez em maior grau. Mas que nos dias atuais, aquele tempo maravilhoso e romântico acontece quando ouvimos a voz da saudade. Deixando a sensação de que vivemos uma época de verdade, onde amor e amizade valiam mais, que qualquer cédula de vaidade.