SERÁ QUE É PECADO?

SERÁ QUE É PECADO ?

BETO MACHADO

Para Alice não havia nenhuma justificativa aceitável que pudesse explicar o sumiço da sua tia Eulália. Havia quase um ano que não se viam. Sempre que perguntava pra sua mãe sobre a tia, respostas evasivas se misturavam com desculpas esfarrapadas.

--- Sua tia é uma mulher muito ocupada.

Alice se fazia de pouco entendida e não encompridava o questionário.

--- Deve ter algum motivo forte. --- pensava.

Eulália é irmã de Marta que é mãe de Alice. Três entes de corações cristãos. Corações enlaçados por parentesco e pela religião.

Vez por outra a Natureza nos mostra que o transcendental põe sua cara na tela da vida real. Como se houvesse tido uma transmissão de pensamento, a campainha toca na varanda da casa de Alice. Marta só retornaria à casa no final da tarde... Quem poderia ser? Vendedores, pedintes, algum vizinho? Antes de um possível segundo toque, decide abrir o portão. Qual não foi sua surpresa!

--- Tia Lalá, que prazer! Entra, entra. To muito feliz com a sua vinda.

--- Oh minha princesinha, você ta, a cada dia que passa, mais bonita, menina.

--- Obrigado, tia. Vamos entrar.

--- Eu to só de passagem. Tenho um cliente novo no final dessa rua. Aproveitei e vim mais cedo pra dar um abraço em vocês... E sua mãe?

--- Foi fazer uns exames de rotina. Só volta de tardinha... Mas deixou algumas tarefas pra eu fazer. Sinta-se em casa, tia.

--- Aceito uma água.

Os olhos de Alice lançavam sobre a tia raios tão reluzentes que a percepção de Eulália foi imediata. Mas sua discrição não lhe permitiu mergulhar de cabeça nesse assunto com a sobrinha.

--- Conta-me algo sobre você. Pelo que vejo, não se livrou ainda do semblante de menina.

--- E nem do corpo, tia. Vou fazer dezoito anos na semana que vem e até agora, nada.

--- Não esquenta cabeça com isso. Essa coisa não uma obrigação. Não somos obrigados a sentir prazer. Caso contrário, muitos o encarariam como um fardo, não como uma dádiva da Natureza.

Eulália senta-se no sofá e a sala parece iluminar-se mais ainda quando Alice retorna da cozinha um copo d’água para a tia.

Enquanto Eulália saciava sua sede, Alice sonhava acordada, lembrando das brincadeiras com tia Lalá, Há dez, doze anos atrás.

--- Tia, deixa eu sentar no seu colo, como eu fazia antigamente?

--- Vem, princesa, senta... Eita! O que é isso aqui? Cuida que essa “bolinha” ta quase estourando, menina.

Alice toma das mãos da tia o copo vazio, coloca-o sobre a mesinha de centro e se acomoda no colo de Eulália. Transportou-se de corpo, mente e alma para seu tempo de pré-adolescência. Como se estivesse em transe, toma a mão esquerda da tia e massageia seu próprio seio direito. Em seguida faz o mesmo, com a outra mão, do outro lado do seu plexo. Alice

Alternava a massagem e aumentava tanto a intensidade quanto a velocidade.

A despeito de ter um corpo de tamanho pequeno para o padrão da sua idade, os movimentos produzidos por Alice já incomodava a musculatura das coxas de Eulália.

--- Você ta se sentindo bem, menina?

--- Nunca me senti tão bem... Delícia, delícia!

Nesse momento Alice tem uns tremores intermitentes, como se levasse uma seção de choques e, segundos depois, volta a si. Sai do transe. Era seu primeiro gozo sexual.

--- Desculpa, tia. Ai que vergonha!

--- Não sinta vergonha pelo fato de a Natureza agir sobre a sua vontade. Sua mãe jamais entenderia se presenciasse uma cena como essa.

Eulália acaricia os cabelos de Alice, com o coração pulsando a mil por hora, como se mãe dela fosse.

--- Preciso ir, Alice.

--- Vou precisar mais de seus conselhos, tia... Amo estar com você.

--- Vou mas, antes, faço um pedido a você: procure um namorado que te entenda, te complete e que não lhe venha com a lorota de pedir prova de amor. Isso é conversa mole pra boi dormir. Só se exponha àquele que merecer a sua confiança. Valorize a conquista desse primeiro orgasmo. Só aconteceu por causa da confiança que você depositou em mim . Esse é o ponto de partida da corrida que Eros haverá de promover ao longo da sua vida.

Tempos virão em que a humanidade não mais confundirá erotismo e sensualidade com pecado.

Roberto Candido Machado
Enviado por Roberto Candido Machado em 08/05/2020
Código do texto: T6941377
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