A LENDA DO GIRASSOL ( releitura por LIA DE SÁ LEITÃO - 07/05/2020)
A
Há muitos séculos passados, uma tribo nômade corria chão e rios entre o que hoje são as terras brasileiras do Sul até a Argentina, os Pirahã.
Um povo que faz do Sol sua fonte de alegria e cuidador da eterna força da natureza a energia da vida; pregam a existência de um Deus maior, esse vive nas matas. Cabe a ele olhar, afagar, salvar e castigar todos que dali passavam a vida, desde o invisível inseto que mordisca a pele como maruins ou bugios anunciando a chegada do astro Rei que iluminando o dia.
As estrelas são os anjos que levam os recados de Deus para todos os seres terrenos, e a Lua era a mãe serena de todas as mães .
O girassol vem dessa gente feliz! Mas na tribo eles conheciam o feio e o belo, o certo e o errado, o amor e o ódio, assim como a honestidade e a falta dela.
A lenda do girassol é atribuída a um homem muito feio, que todos execravam como uma assombração. Foi expulso de várias e várias aldeias indígenas por que todos os curandeiros diziam que aquela aberração da natureza trazia agouros, as plantações morriam em geadas, os curumins nasciam com doença do umbigo, idosos perdiam o folego e se afogavam no seco! O homem caminhou léguas varando sol a pino ou chuvas, frios intensos e até geadas.
Seguia a noite em tempo limpo as estrelas da Cruz ou a Lua prateada.
As nuvens escondiam o Sol em dias de chuva. Mesmo assim, ‘alumiava’ o mundo, e ele avançava léguas para algum lugar.
As Estrelas em noites de frio e nevoeiro sumiam para se aquecer do gelo do inverno, o homem juntava pedras grandes e ali acendia o fogo, juntava folhas, galhos e fechava a cabana com bananeira ou taiobas encontradas nas margens dos córregos e rios.
Esperava passar a noite escura. Molhava as mãos e pensava sorrindo daqui a pouco é tempo da Lua olhar a Terra. E cá debaixo do céu, os seres parados admirando a sua beleza.
Ele pensava quem está na Lua olhando a Terra? Assim como eu espiando daqui pra la?
Aquele homem amava o Sol, o calor e se determinou depois de muito matutar massageando os pés e comendo algumas frutas colhidas pelo caminho que a noite seria para descansar e esperaria o escuro da noite se romper em brilhos para seguir.
Quando a tarde chegava e com ela o luso fusco e a noite, ele abria uma pequena clareira e desenhava com os pés uma circulo grande com uns dois palmos, e abria em raios. Acendia um fogo bem no meio onde a claridade e o aquecimento ele oferecia ao Sol num ritual de cânticos e danças, orações e louvores aquela cerimonia durava muitas horas da noite, quando cansava, se enrolava numa manta de pele pertinho do fogo e dormia o sono dos anjos.
Um dia; o homem sonhou algo desconhecido; como todos os sonhos de aviso celeste!
Era um ser elementar esvoaçante e brilhoso, flutuava daqui pra lá e de lá pra cá; acendia e apagava, piscava ininterruptamente para depois brilhar um brilho intenso, dava cambalhotas no ar, subia nas nuvens e voltava em rodopio! Fazia ziguezagues e montanhas russas tudo em coloridos como neon na época dos avós e led nos dias de hoje.
Ele ajoelhou e olhou com mais atenção se era sonho ou verdade, como ser humano carecia de crer em algo mais que dia e noite, terra e rio, pensou! Esse brilho que saltita quer música! E bateu palmas num ritmo de alegria! Pensou! Esse ser que brilha quer cânticos! E cantou! A voz no inicio tímida, quase embargada, depois ficou forte, ritmada, feliz, um canto belo que as aves noturnas silenciaram, os grilos e os bichinhos barulhentos pararam para se deliciar com aquela lambança que saia a plenos pulmões.
Aquele ser que girava e girava queria dançar! E ele dançou! Ficou exausto de tanto esforço para satisfazer aquele ser minúsculo que batia palmas, cantava, e dançava as músicas que ele criava; sim! Era um ser diferente e ele disse: SER ELEMENTAR VOCÊ AGORA É MEU GUIA! E pediu ao ser elementar para ser só alegria!
Quando a tarde começava a ir embora, lá estava a estrelinha a brilhar. Sua paixão era tanta que, um dia, ela foi conversar com o rei dos ventos para poder deixá-la ficar bem perto do Sol. Ela queria fazer uma surpresa ao seu amigo.
O Rei dos Ventos explicou que tal feito não era possível ela se derreteria no calor do Sol. Mas, tinha uma solução, o ser elementar se deixar transformar numa estrela não naquelas estrelas do céu, mas uma que pudesse morar na Terra.
Sem pensar aceitou a proposta e naquele mesmo instante virou uma semente que mais parecia uma lágrima. O Rei dos Ventos, então, plantou a nova semente e cuidou dela com carinho até transformá-la em uma linda planta.
Ao abrir suas pétalas, viu que suas cores eram parecidas com as do Sol, e a partir daquele dia o seu amado amigo não precisava mais caminhar pra qualquer lado para ver o Sol. Ela tinha descoberto que as extensas caminhadas para apreciar o Sol onde ele estivesse.
O ser elementar agora a plantinha toda esguia folhada e amarelo ouro ficou toda feliz com sua nova forma e seu amigo andarilho a partir desse dia, podia sentar, ali na frente e acompanhar em dias de vento forte a plantinha virar o seu pólen para onde o Sol estivesse brilhando e soltar suas sementinhas para o Rei Vento levar a outras terras a sementinha de amor do Girassol.