Vestígios de uma história de amor

O filho dos dois chegara da Itália. Era um rapaz de 30 anos cheio de paixão e decisões. O pai esperava calmamente no aeroporto, tinha longos bigodes grisalhos e ficava distraidamente enquanto fumava seu cachimbo.

Era um homem velho e vívido, tinha grandes experiências. Umas alegre outras, a maioria, triste. Tinha 50 anos bem vividos, um homem de aparência tranquila mas de olhar triste.

A mãe do garoto estava ansiosa pela volta do filho, era veterinária, era uma mulher competente, que tinha muito amor pelo trabalho, amava cuidar dos animais. Ela tinha 52 anos, tinha os fios brancos entre os fios dourados, a idade havia feito muito bem a ela, era uma mulher linda e de fibra.

Eles tinham sido, por 10 anos uma família feliz, até se divorciar e viver com o filho no velho sobrado de uma cidadezinha no sul.

O homem correu o mundo, trabalhando, dividindo o pouco que tinha entre despesas e enviar dinheiro para cuidar do filho. Seu maior arrependimento era ficar tanto tempo longe do filho e da ex mulher. Não importava a quantia que mandava para o filho, nenhuma soma se comparava com a ausência de um pai. O tempo passou e Anita se casou outra vez, mas ensinou o filho que o pai mesmo distante o amava. Ele continuava sozinho, numa eterna busca de se encontrar.

Era grande seu egoísmo, a mulher se sacrificou para criar o garoto sozinho e ele onde estava? Na Noruega, Londres e Paris. Demorou muitos anos para conquistar a confiança do filho e fazer parte de sua vida, sabia que não tinha direito de causar nenhuma confusão da ex mulher e do filho mas sempre estaria por perto. Seria um pai, não queria recuperar o tempo perdido. Essa era uma perda que ele deveria levar.

O filho surgiu no saguão do aeroporto. Se abraçaram com força. Esse carinho era a prova que seus pecados estavam espiados. O filho sempre ria e zombava do carro dele um Buick 1946 ( apesar disso o filho gostava muito do carro do pai). O pai abraçou o filho novamente e de lá foram para a pequena cidade.

5 horas de viagem depois eles chegavam naquela aconchegante cidade. Era pequena, onde todos se conheciam, tinha uma praça em frente a igreja onde os jovens e casais se reuniam a noite e idosos de manhã, para se esquentar ao sol e jogar conversa fora.

Ao chegarem na casa da mãe o garoto a abraçou, levantou e rodopiou- a girando e girando, abraçou o padrasto conversaram, ele observava o pai discretamente.

O pai estava feliz por serem uma família tão unida e feliz. Ele sempre sentia uma carta fora do baralho, era normal ele se sentir um intruso, talvez a culpa o corria. Essa noite era do filho. Todos reunidos fizeram uma festa de boas vindas e aproveitaram pra comemorar as férias do garoto. O garoto que se tornara um homem.

Ele abandonou a tristeza e com o filho festejou. Ficou com eles por 5 dias. Mas precisava voltar.

Voltar para o casarão antigo que morava em minas e pro seu trabalho( era um médico e trabalhava num posto de saúde da pequena cidade de Vale do Mato Alto em Minas Gerais . Se despediu do filho, de sua ex mulher e do marido dela e foi dormir.

No dia seguinte, acordou cedo. Se arrumou e saiu devagar para não acordar ninguém. Se surpreendeu com a mulher. Ela o abraçou e foi com ele até a varanda. Ele sorriu sem jeito. Ela segurou sua mão e deu um longo beijo no seu rosto e sussurrou

"Ainda amo você. Mas nossos caminhos se separaram no passado. Cuide - se e venha sempre que puder... você é bem vindo na nossa casa"

Ele suspirou pesadamente, sorriu sem graça e afagou o rosto dela. Naquele beijo e naquelas palavras ele sabia que a tinha perdido para sempre. Saber que ela estava bem e feliz era um grande consolo nisso tudo.

Ligou o carro e se afastou. O sol já brilhava, mostrando o novo dia, quando ele já se encontrava longe da cidade.

Wesley Curumim

Wesley Curumim
Enviado por Wesley Curumim em 07/05/2020
Reeditado em 09/05/2020
Código do texto: T6939794
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