RETORNO - Lia Lúcia de Sá Leitão 30/04/2020
O tempo marca o que achamos que é futuro, ledo engano! O tempo marca o ontem e o antes de ontem talvez, é certo pensar que o agora no final dessa palavra já é passado. O que se deseja é futuro mas ... o que é o futuro se nem o agora é seguro?
Re + voltando seria voltar mais uma vez, ou mesmo o estado das insubordinadas letras? Faz tempo que os dedinhos tentam escrever o que a cabeça pensa e a alma nega, a arte de escrever o inimaginável das cores ou a textura do papel e a virtuosa arte virtual. Ara! chegamos ao momento que tudo é virtual, ops! Quase tudo. Tomarei o vocábulo virtual sinônimo de praticável o que revela uma virtude, acessibilidade.
Darei ao tempo um momento de acessibilidade em minha escrita e vou deixar fluir como se os ponteiros nunca viesse a influir no agora o que foi ontem e será lido no porvir. Adianto uma descoberta tecnológica, o teclado que utilizo é desprovido de acento "til" sinal diacrítico (~) indicador de nasalização da vogal na palavra. Tentarei ser fiel à fantasiosa fábrica de histórias. Retornando em tempos de Covid 19.
Assim mato o tempo e excomungo com a recriação de uma vibração que não lembre a lágrima daquele que se perdeu em algum momento de agora.
Tento infiltrar em meu universo sem tempo de lembrar a realidade desse agora.
A perspectiva de pavor que se descreve nos gráficos estatísticos de quem espera o Sol nascer, crendo que em algum lugar tem alguém acordado às 4 horas da matina sovando o pão das cinco. Alguém virá na bicicleta desbotadamente azul com uma caixa improvisada no guidão com três garrafas acopladas para não tombar no trajeto o café pingado e o café puro, o isopor tem pão doce, pão de sal, broa de milho bolacha de polvilho, ali tudo popular, preço até para quem tem o olhar perdido no tempo e de campana sente o preço de um voto errado nas portas de algum hospital.
Retorno.