FAXINA

Hoje reabri a velha casa. Milênios me separavam de seu convívio.

Percebi a pintura desbotada das janelas. As paredes com nódoas de umidade. Os batentes das portas corroídos pelo tempo. O pó onipresente.

Restavam alguns fantasmas a percorrer os aposentos. Discretos, como cabe aos seres do outro mundo. Fiquei quieto e observei. Abri a janela e eles se dissiparam.

Munido de vassoura, balde, pá de plástico, esfregão, sacos de lixo e demais utensílios, iniciei a limpeza.

Comecei devagar. Num ritmo digno da terceiridade. Breve, doíam os músculos das costas, a rinite marcava presença e o cansaço quase me levava à desistência. Resisti.

Depois de algum tempo, olhei em volta. O pó estava acumulado no saco plástico e as quinquilharias devidamente colocadas no lixo, Procurei por um imaginário relógio-ponto e dei por encerrada a tarefa.

Apaguei a luz. Carreguei os sacos de lixo para fora. Fechei a porta.

Ainda pude sentir o retorno das figuras protetoras da casa. Desejei muita luz para elas e fui embora.

Uma tonelada de saudades pesava no peito.

Ricardo Mainieri
Enviado por Ricardo Mainieri em 30/04/2020
Código do texto: T6933280
Classificação de conteúdo: seguro