Sonho 1

Esta história aconteceu em um dia de sol, mas em um lugar um pouco sombrio, no laboratório de anatomia da minha Universidade. As luzes estavam acessas como de costume, mas o piso era de cimento, as paredes das duas salas estavam bem sujas de matéria orgânica e eu resolvi ir justamente neste dia descalça; e nem me pergunte o porquê!!! Num primeiro momento não pareceu uma má ideia, visto que minha atividade era apenas observar algumas peças do laboratório rapidamente e logo ir embora. Mas minha atividade lá demorou mais do que o esperado.

O chão estava tremendamente sujo, porque nesse dia vários cadáveres “novos” estavam chegando, e isso começou a me incomodar loucamente. Havia dois técnicos em duas bancadas, um em cada uma, fazendo a retirada dos órgãos de dois cadáveres recém chegados. Seus aventais brancos estavam muito sujos de vermelho e muito sangue estava esguichando desses cadáveres; inclusive, alguns pedaços do intestino estavam caindo no chão. Parecia até mesmo uma sala de necropsia... nem queiram imaginar os detalhes mais imundos de putrefação, pois esses cadáveres ainda não tinham passado pelo processo de formolização.

Enquanto via alguns alunos dissecarem um cadáver enquanto conversavam com este que parecia um zumbi, meus pés em contato com aquele chão podre estavam me deixando nos nervos que nem me concentrei nessa cena tão estranha – alunos conversando com um cadáver sobre seus próprios órgãos. Então tentei resolver meu problema. Pedi a uma colega que me esperasse enrolar uma faixa nos meus pés antes de prosseguirmos nossas atividades no laboratório. Pra minha infelicidade a faixa deu somente para tapar metade de um dos meus pés. Por sorte, surgiu do meu lado um par de meias que iam até meus joelhos. Pronto, maravilhoso, calcei as meias e fui bem mais tranquila para dar continuidade ao que estava fazendo.

Enquanto estava a caminho do meu professor, Rafael, que ajeitava algumas coisas em um outro cadáver, eu percebi que mais cadáveres iam chegando. E Jesus, não parava de chegar, eram muitos mesmo. Comecei a me sentir estranha e falei com Rafael que queria ir embora, que depois cumpriria o restante das horas. Mas Rafael disse:

- Nem pensar, ainda está muito cedo pra ir pra casa. Vamos analisar alguns corpos primeiro.

Enquanto ele estava concentrado fazendo alguma coisa, eu e minha colega fomos tentar encontrar alguma saída naquela sala. Eram duas salas na verdade, mas não queríamos chamar atenção saindo pela porta principal na primeira sala. Então vimos 3 salas, uma dentro da outra. A primeira tinha uma trava que fechava na pressão, e a segunda não possuía trava, mas a terceira estava bloqueada com um código que somente alguns médicos que trabalhavam lá tinham acesso. Percebendo que não daria para sair por aquele lado, voltei para onde Rafael estava. Enquanto me aproximava dele, o ambiente extremamente sujo e um clima de inquietação que comecei a sentir me deixou extremamente desesperada para sair daquele lugar. Foi nesse momento que eu vi que alguns dos cadáveres estavam se mexendo, as suas cabeças estavam sacudindo. E eu vi uma mulher, de cabelos longos, com a pele arroxeada e suja de terra e suor se levantar de uma maca e subir em outro cadáver que também estava acordando e aparentava ser muito obeso. Nesse momento, meu coração disparou com aumento da minha adrenalina. Instintivamente, eu e minha colega fomos pra trás do Rafael que começou a recuar conosco. Nesse momento, lembrei da saída que havia encontrado minutos atrás. Apesar de não saber destrancar a última porta, não tínhamos outra saída. Dessa forma, começamos a correr em direção a essas portas, mas nessa hora parecia que a distância tinha aumentado muito e nunca mais alcançávamos a porta. Quando abrimos a primeira, a sala era muito pequena e mal cabia nós três, então ficamos exprimidos e eu comecei a levantar a trava que abria por pressão e logo estávamos dentro da outra sala, porém, essa não tinha trava e os dois cadáveres, a mulher e o homem obeso, já haviam alcançado a primeira sala. Então não tinha muito o que fazer a não ser enlouquecer quando Rafael disse que também não sabia o código de passagem. Comecei a tentar enfiar minha cabeça numa abertura que tinha no meio da porta e quando percebi tinha um escritório do outro lado e somente uma pessoa sentada em frente um computador, parecia um secretário. Comecei a gritar pra ele abrir a porta, mas ele parecia que não me ouvia. Quando mais eu gritava mais devagar ele se movia, e enquanto eu olhava para trás e via os cadáveres se aproximando, ele começou a se levantar. Mas, parecia que ele não estava indo abrir a porta para gente. Então comecei a empurrá-la desesperadamente até que de repente ela se abriu e eu e Rafael caímos no escritório. Fechamos imediatamente a porta, e quando eu olhei pelo vidro que tinha nela vi minha colega se movendo como os cadáveres...

Foi quando acordei.

Katenp
Enviado por Katenp em 29/04/2020
Código do texto: T6932415
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