Onze Anos na Escuridão
Era o ano de 1997, eu com meus 11 anos e o céu estava carregado e eu na janela observava eufórico a chegada da chuva. Contando as horas para mais uma vez fazer o que eu tanto gostava, brincar nas enxurradas que desciam nas ladeiras íngremes da minha cidade e assim foi mais uma tarde de diversão. Só não sabia que iria mudar minha vida, depois de umas semanas acordei com os olhos inchados e vermelhos da cor de sangue, mas pensei "logo isso passa". Não passou, lá se foi médicos e nada de descobrir o que era. Cada dia só piorava, parecia que tinha espinhos nos meus olhos. Era uma dor que doía na alma, eu com 11 anos e na escola. Acho que a fase mais gostosa da vida der ser criança, mas não foi o meu caso. Lembro que ia pra escola e até tentava estudar, mas quando a professora escrevia no quadro da sala. Juro que tentava escrever no meu caderno, mas as páginas ficavam molhadas pelas lágrimas que escorriam no meu rosto. Lembro me de "Dona Dilma" minha primeira professora, que por me tinha um carrinho e acho também que minha situação lhe comoveu o seu coração. Várias vezes me levava no médico que nada sabia o que era e passavam remédios que de nada adiantava. Não esqueço dela até hoje e que sou muito grato. E assim foram se passando dias, meses e anos e os médicos não descobriam o que era. Tinha dias que acordava, mas não via a luz do Sol, pois não conseguia se quer abrir os olhos. Foi me ferindo tanto que a dor não era só nos olhos, mas também na alma. Apesar de tanto sofrimento não perdi a vontade de viver, mas confesso que cansei. Já não via mais esperança, queria "ser normal" como as outras crianças. Eu andava fechando os olhos nas ruas pra ver se aliviava a dor. Foi em um dia desses que aconteceu algo engraçado. Fui inventar de fechar os olhos e na frente tinha um caminhão parado, não deu outra, de olhos fechados eu bati em cheio na carroceria e tinha um senhor olhando perguntou se estava tudo bem e eu respondi que estava me preparando para minha nova realidade. Tinha medo de não poder enxergar um dia. Depois de alguns anos um médico disse que quando eu completasse meus 22 anos eu estaria livre de tudo aquilo. Eu não liguei , pois já tinha ido em vários médicos e nenhum tinha a solução. E lá ia vivendo com meus olhos de sangue e alma escura, já não tinha vontade de abrir os olhos. Foram 11 anos na escuridão que não parecia que ia ter fim. Assim foi minha infância e adolescência, até que completei meus 22 anos no dia 28/09/2008 e por incrível que pareça a partir daí não sentir mais nada. Até hoje não sei o que eu tive e o que foi que me curou, se foi milagre, não sei. Sou grato a Deus por tudo, hoje sou uma criança de 33 anos e muito feliz. Todos nós temos um fardo pra carregar, mas Deus nunca nos dá um que não seremos capazes de carregar. Mesmo que a vida pareça injusta não desanime. Lute e busque força pra seguir em frente, pois tudo na vida passa. As coisas ruins acontecem para que possamos darmos valor nas coisas boas. Sentir vontade de escrever esse texto que aconteceu comigo e espero que dê alguma forma possa servir pra você que está lendo.