UMA HISTÓRIA VERÍDICA DE CASERNA

Prólogo

Está é uma história verdadeira. O outrora 2° Sgt, que exercia a honrosa função de Brigada do Btl, é hoje Cap R/1 já reformado pela idade.

No contexto, o personagem oficial de carreira, Cel Inf (que Deus o tenha sob sua eterna luz), já desencarnou há alguns anos. Apesar de sua limitações linguísticas o nobre militar era brioso e gente de melhor cepa.

O bem-apessoado chefe militar de características indígenas, até no nome (Tupinambá), rascunhou um ofício no qual apresentava ao Diretor do Posto de Saúde local (Campina Grande, PB) uma equipe constituída de seis militares. Essa equipe colaboraria na vacinação contra paralisia infantil.

A JOCOSA “CHAMADA NA CHINCHA”

O 2° Sgt, Brigada do Batalhão, conhecido por sua audácia e/ou petulância, desaforo, irreverência, coragem e confiança foi designado para datilografar o supracitado documento.

Ocorre que, entre outros pequenos deslizes, a palavra paralisia, no rascunho do senhor comandante, fora grafada com “z”! O 2° Sgt circundou o grosseiro e gritante erro com lápis de cor vermelho-vivo e fez outras pequenas correções tais como sujeito separado por vírgula do predicado e outros de somenos importância.

Naquela ocasião entendeu o graduado que tudo estava de acordo com o seu convencimento e o de renomados gramáticos da época. Qual não foi o seu espanto ao ser chamado para explicar ao Cmt o porquê de ter “bagunçado” o "tão caprichado" rascunho da autoridade.

O HILÁRIO DIÁLOGO

– Quem lhe autorizou a modificar o meu rascunho sargento? – Perguntou o Cmt encolerizado e fuzilando o sargento com o olhar de águia.

– Napoleão Mendes de Almeida... Senhor. – Respondeu o graduado sem pensar, mas na posição de sentido.

– Quem é esse cara? – Gritou o Cmt mordendo o lábio inferior e amiudando os olhos oblíquos.

– Napoleão Mendes de Almeida. Trata-se de um gramático da língua portuguesa! – Respondeu o 2° Sgt com a voz sumida, quase inaudível, mas com a segurança que o caracterizava. “O eminente professor faleceu em 1998. Foi um gramático, filólogo e professor brasileiro de português e latim”. – (N. do A.).

– Não quero saber de conversa fiada! Pegue o dicionário! – O Ajudante-Secretário, um capitão egresso da AMAN, que se encontrava presente, tentou fazer um sinal para o 2° Sgt tentando apaziguar os ânimos. Debalde. O sargento atrevido respondeu enfurecendo mais ainda o comandante possesso (tomado de ira; furioso, encolerizado.).

– Mas a dúvida não é minha ... – Com um murro na mesa e um grito tonitruante o Cmt berrou: “Pegue o dicionário sargento e veja como está escrito a palavra paralisia!”.

O sargento abriu o dicionário, que se encontrava sobre a mesa do comandante, na supramencionada palavra, e ao mostrar ao Cmt, ele com a pele do rosto entre acinzentada e pálida, disse com a voz trêmula num misto de surpresa, ódio, decepção e estupor: “Este dicionário está desatualizado!”.

EM DEFESA DO NOBILÍSSIMO COMANDANTE

O fato de errar não deve ser tão frustrante ou desanimador, pois com o erro se aprende e errando conquistamos sabedoria capaz de tornar uma pessoa simples em um vencedor ou criativo brilhante assessor.

Depois do incidente o oficial comandante autorizou o sargento a fazer as correções pertinentes a todos os demais documentos rascunhados por ele, mas antes enfatizou: "Quando você identificar algum engano de minha parte... Antes de riscar meus rascunhos me mostre onde eu me enganei. Se eu concordar com sua observação... Tudo bem. Prossiga na missão!".

Assim é o ego. O regulador máximo da mente. Com esse desfecho do diálogo o oficial deixava em evidência a força de seu ego em detrimento do aprendizado. Eu sei. Todos sabemos. Não é fácil para um comandante ou outra autoridade aceitar a observação de um subordinado sobre um seu erro ou engano por menor que seja. Claro que um pouco de humildade e menos vaidade ajudaria muito nessa difícil empreitada.

CONCLUSÃO

Enfim, as boas gramáticas, os bons artigos publicados nas mídias e até as novelas, peças de teatro, filmes etc. estão sempre nos ensinando — pelos exemplos certos ou errados — e nos despertando para novas e velhas questões. Afinal, por menos vaidoso que seja alguém (autoridade ou não), ninguém se sente confortável sendo motivo de zombaria.

O objeto deste artigo não é tripudiar sobre a limitação de quem quer que seja. Aliás, todos estamos sujeitos a erros gramaticais e passivos de deslizes ao escrever ou falar num idioma em que espectador com (s) e expectador com (x) têm significados diferentes.

Estudar demais poderá ser cansativo, mas nunca será suficiente para aprender e saber que “de mais” (locução adverbial) é diferente do adverbio de intensidade “demais”.

Demais (uma só palavra) transmite, principalmente, intensidade. Intensifica verbos, adjetivos e advérbios. Exemplos: falar demais, escrever demais, doce demais, cedo demais, caminhei demais.

De mais (separado) transmite, principalmente, quantidade. Quantifica substantivos ou pronomes. Exemplos: coisas de mais, comida de mais, gente de mais.

Hoje caminhei demais. Por isso fiquei com fome e comi de mais! Eita! Idioma português complicado!