O Ipê do futuro

Dona Leopoldina gastava os olhos tristes na paisagem, em busca de algo que a interessasse. Ao avistar o amarelo incandescente de um Ipê florido, fez a carruagem parar. Desceu com seu caderninho, tentando retomar o hábito que lhe trazia alegria anos antes, e começou a tomar nota sobre a árvore. Sua damas de companhia, abobadas, não faziam juízo de valor da imperatriz, pois já estavam acostumadas, mas um nobre, daqueles que vieram para administrar o império junto a corte portuguesa, pôs-se a rir, pensando: "Como és tonta, essa princesa. O que ganhas, rabiscando a planta nesse caderno? Melhor seria se gastasse os dedos num bordado ou num terço".

A imperatriz tomou suas notas e voltou para carruagem. Pôs o caderno rente ao peito, como um objeto de devoção. Lembrou-se das lições de botânica, mineralogia, zoologia, das canções em francês e das aulas de piano. Lembrou-se, inclusive, do diálogo que um dia manteve com o escritor Goethe. De fato, de que servia a ciência e a cultura naquele lugar em que estava, se não como exotismo? Respirou buscando alívio. Ao menos o ipê era lindíssimo, colorindo a vista no mar carola e de ignorância surda em que fora parar a culta menina austríaca.

Pensou ser sinal de Deus - o Ipê - sinal para crer que o país tropical, que era então obrigada a chamar de lar, um dia iria florir.