TRISTEZA E SAUDADE

Trabalhava em escola municipal e foi transferida de escola e de bairro. Um tanto perdida, bairro frequentado em outras épocas, mas aquela rua não conhecia. De repente, uma garotada um tanto ruidosa entrou no ônibus e ELA conseguiu ler num bolso o nome da escola. Uma mocinha alegre, sorridente... Minha AMIGA seguiu-a de longe sem se falarem. Bom, apresentou-se à diretora adjunta, acertaram dias e horários. Daí em diante, por acaso (formada em português, trabalhando em outra função), foi se tornando a "tia" da tal garota, aulinhas e explicações nos tempos vagos, confidências de jovem querendo conversar. Penúltimo ano. Ainda tiveram mais um de amizade quase familiar. A mocinha acabou o ginásio /tempo um tanto antigo, nomenclatura da época/ e queria cursar eletrônica - não exatamente pai culto ou de tradições culturais: apenas machista. Forçou-a ao concurso para o normal, futura professora primária. Aos primeiros dias de aula, motorista novata e apressada perdeu a direção, subiu a calçada e a atropelou, cabeça batendo no muro da própria escola. Traumatismo grave. Irmão mais velho convocado há pouco pelo exército conseguiu vaga através do serviço social e foi operada com sucesso relativo, meio ponto de vista cirúrgico, no hospital central. Nunca houve inteira recuperação. Perdeu aquele ano escolar. Tratamento físico e psicológico, tentativas inúteis. Voltou no ano seguinte - não entendia as aulas ou esquecia tudo rapidamente. A "tia" certa vez levou um bolo caseiro e ELA reconheceu sabor de tangerina, para espanto geral. Em casa, passou a desconhecer o pai, como sendo um visitante a procura dele. Consciente das deficiências. Certa manhã abriu o portão de casa e correu. Familiares atrás, mãe e irmãos menores, sem alcançá-la. Um tanto longe. Parou por segundos na esquina com Avenida Brasil, certamente esperando passar um veículo mais pesado, atirou-se sob um caminhão.

F I M

Rubemar Alves
Enviado por Rubemar Alves em 06/04/2020
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