A sopa primordial

Passava um desses seres mitológicos, em sua carruagem, a viajar pelo vasto universo que algum outro deus mais vaidoso, outrora, construíra. Entediado em sua super velocidade, resolve parar naquilo que hoje se conhece como planeta. Pois bem, aquele planeta chamara sua atenção pela sua cor azulada, apesar de tudo ainda pequeno, ainda assim uma joia pertencente a uma estrela de tamanho também insignificante, que milhares de anos mais tarde viriam a chamar de sol e que também mais tarde ia se tornar aos homens quase um outro deus.

Ficou maravilhado, um tanto também pelo tédio que sentia, com a abundância de água, era quase que como uma outra dimensão do universo. Resolveu fazer parte daquele milagre e nadou naquelas águas como quem procura a uma espécie redenção.

Eram azuis, aproveitou a vista, a abóboda celeste também azul do planeta. Ali houve naquele momento a sensação de pertencimento que alguém que está entediado ou mesmo ansioso procura.

As rochas que são violentadas pelos mares não ficam entediadas, por isso a sua imobilidade, fossem entediadas iam se de todas entregar se ao mar, causando assim o fim do fim do universo ao interromper a ordem das coisas.

É preciso que as rochas não descubram esse segredo.

Não havia perguntas em sua cabeça, ele era o agora, ele era o você está aqui da modernidade, havia só a plenitude de não existir como a que experimentamos antes de nascer ou morrer.

Ficou ali por algum tempo e antes de voltar a sua carruagem de fogo deu fim ao ritual que seria repetido pelos homens quando saem da águam. Enxugou-se. Passou a mão em corpo que não era nem masculino nem feminino como deve se supor que é corpo dos deuses mais elevados, era apenas um corpo.

Ia esfregando o que chamamos de pele e formava se ali um novo caldo, já diferente da água primeira, como se fosse um líquido seminal. Não demora, sai e segue sua viagem e aquelas partículas começam como que por feitiço digo química a formar o que mais tarde se chamará de vida.

A vida nascia sem querer como um erro e desde então não se tem visitas de algum desses seres, alguns acreditam que sim, aqueles que escondem o segredo das rochas chamam-no de universo.