Conto

Olavo Bilac, que iniciou o curso de Medicina,mas não o concluiu,referia-se a esse ofício ,dizendo:"a difícil arte de Hipócrates"!

O caboclo idealista!

E naquela ocasião, chegara à Vitória de Santo Antão, um rapaz vindo do sertão pernambucano, e tinha a absoluta impressão que fizera uma ótima mudança. Era um tipo elegante, de voz mansa e jeito delicado. Estudava medicina ,em Recife. Familiares do rapaz - que residiam nesta cidade-possuíam conceitos materiais respeitáveis, diziam-se comprometidos com uma ética elevada. Porém, quando o assunto era honestidade e a prática de atitudes equilibradas e racionais, havia uma classificação diferente. E nesse ambiente tão materialista, e de uma competição que se apresentava tão distante de uma realidade humanística, o distinto rapaz tinha uma postura que ressaltava a sua nobreza de espírito; e embora se sentisse solitário,em se tratando de suas aspirações ideológicas, conseguia estabelecer uma relação sem maiores problemas de convivência.

Dizia o rapaz, que quando se formasse ia praticar a chamada medicina social, pois se indignava com o desleixo daqueles que mandavam em todos, e esse comportamento tão inoportuno, em se tratando de interesse comum, o deixava apreensivo. O compromisso daquele jovem sertanejo com o humanismo era perceptível, pelas suas atitudes, pelas suas ações, enfim todos tinham a certeza que se tratava de uma pessoa íntegra, um coração generoso. E nas conversas, nas praças, nos bares, surgia sempre a discussão: um idealista no Brasil. Será que valeria a pena? Havia quem defendesse as convicções daquele ser humano, que diziam , ser possuidor de um caráter tão especial, com o argumento de que medicina era uma coisa a parte, e desejava que ele fizesse o que fosse possível pelas pessoas necessitadas. E também havia as opiniões contrárias ao procedimento daquele caboclo gentil.

Diziam que ele era um otário, não conhecia a realidade do seu próprio país. Aconselhava-o a pensar de forma diferente, em dinheiro, ganhar dinheiro, e seja lá como fosse, e concluía dizendo que isso aqui é um conluio de oportunistas, de gente experta , que não adiantava querer ser nobre, é uma questão de instinto; o Brasil existe para ser um laboratório de enriquecimento ilícito; e o ideal é que toda pessoa decente deveria ir embora para bem longe daqui!O Brasil é um lugar exótico, onde expertos e expertas, entregam-se a uma orgia delirante! - completavam. Havia até um sujeito bastante espirituoso que comparava o Brasil a um lugar desprezível ,desses que quem o frequenta tem a impressão de que a vida, sobretudo , a vida humana , não passa de uma mercadoria barata, e que a qualquer momento, alguém pode liquidá-la pela mais insignificantes das razões. O rapaz, melancólico, ficava na dúvida, pensava em ir embora para o exterior , depois de formado, e sem levar nenhuma lembrança daqui. Mas, isso não aconteceu , o rapaz formou-se e ficou aqui mesmo, fazendo todas as coisas que havia planejado. E ganhou a alcunha de” caboclo idealista”.

Soleno Rodrigues
Enviado por Soleno Rodrigues em 20/03/2020
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