A Morte de Estella Mistral
“Luz, mais luz. A pintura em seus olhos necessitam refletir sua alma... Dourado, me lembra ouro, portanto não. Tente a cor roxa.”
Olhos verdes, pálpebras pintadas de roxo, cabelos castanhos claros com algumas mechas que são loiras. Vestido também roxo que possuí abaixo do ventre uma grande saia, com flores bordadas em dourado. Este nobre vestuário, fostes desenhado por Monsieur Vaughan, que fique tu a saber, eis o sujeito que decidiu a cor das pálpebras de Estella Mistral. Na mesma quadra em que estão, há uma Catedral em honra de Maria. O sino desta badala cinco vezes.
“São quatro horas, tenho que ir me escravizar, para causas maiores. Adeus, Monsieur.” diz ela. Dois estalar de lábios, um em cada lado da bochecha promovidos, por Estella e Vaughan, sela o fim da arrumação. Ela parti deslumbrante, seu salto grosso e não alto ressoam, no chão trabalhado em madeira de carvalho. Seu assessor que exerce a função de terapeuta e melhor amigo, pois que ela não é a deusa do tempo e da paciência e eis como um navegador em um rio de correnteza rápida e incessante que viaja de porto em porto sem nunca descansar e contemplar, para ter tempo de poder encontrar pessoas que exerçam cada umas destas funções, abri-le a porta. O assessor é moreno e rechonchudo e passa a bolsa negra lustrosa de Madame Mistral, para a mão de sua filha também chamada de Madame Mistral. Estão os dois no quinto e último andar de um prédio elegante, erguido à mando Napoleão Bonaparte.
“Descemos de elevador.” diz ele já decidido.
“Ele é pequeno. O vestido não merece esse tratamento. Vai amassa-lo.” sagaz mas sem audácia, Estella enlaça seu braço ao do homem, eis isto um gesto comum entre eles.
“Você está com frio? Sua mão está um gelo.”
“Para brilhar Victor, esqueço que existe temperatura.” Esqueça temperatura, vida pessoal, transforme tudo em um emaranhado viciante de trabalho. Eis que assim conjectura Estella, ao decer a escada forrada de carpete vermelho. Agora, encontram-se no quarto andar, nenhuma palavra trocam, portanto falam consigo mesmo em seus pensamentos. E assim contínua Estella consigo mesma: Vicie-se no trabalho e termine como eu. Com fama, prestígio, enorme conta bancária e um grande embuste por tudo gerado e falado pela imprensa... Abutres, quantas vezes disseram que estava grávida. Mas ainda sim, eis muitíssimo bela essa vida, posso lutar e defender tudo que creio.
“Quantas gravidezes inventadas tive?” pergunta ela abruptamente.
Soa estranho nos ouvidos de Victor, estas palavras. “Quatro. A última foi à dois anos.”
“Hesitou na resposta.”
“Estava relembrando e contando.” Estão no segundo andar, um sorriso que não mostra os dentes, preenchem os lábios rosadas de Estella. Essa ação poderia ser interpretada como um pedido de desculpas, mas não eis. É apenas um artifício para demostrar, que falou em demasia. Pois três destes não nascidos foram creditados à Victor. Enfim andar térreo, uma leve ofegância pode ser percebida na respiração da mulher de roxo. Victor levanta a cortina e espia a avenida. Há um homem robusto de calça negra e jaqueta de couro também negra, atrás da banca de jornal. Victor não o enxerga.
“Ninguém, apenas o carro. Podemos sair tranquilos, sem assédio de qualquer admirador.”
"Você primeiro.” Dando vez ao cavalheiro, Estella caminha atrás do assessor. Garoa e venta forte. Saí de seu esconderijo o homem robusto. Victor estais dado uma meia volta no carro, para lhe adentrar pela porta passageira esquerda. Ela tenta dar um passo, mantem-se estática eis como se uma lama movediça lhe possuísse. De início nada ela sente, aos poucos seu ombro nu, por conta do vestido ser tomará que caia adquiri um ponto quente, isto acontece devido a mão do robusto desconhecido. Estella vê essas mãos firmes em seu busto, tenta correr, mas não entra em pânico. O homem lhe puxa em direção ao prédio. “Victor, Victor me socorra.” Ciente de todos os fatos o assessor corre em sua direção, abruptamente pára. O homem sacou uma arma. Primeiro aponta ela ao homem medroso, atordoado de nome Victor, em seguida, Estella sente o frio do aço vindo do objeto em seu pescoço. Ela sabe se usada a bala destruirá sua mandíbula e explodira seu cérebro.
“O que quer?” pergunta Victor.
“O que quero? Ela morta, é claro. Ela tem que morrer.” O homem pragueja sem hesitar, como se estivesse esperando dizer isto à muito tempo. Victor relembra que não viste o motorista dentro do automóvel. Desejando que ele esteja, esperando o momento certo para findar este drama, começa a atuar fingindo ser um um negociante profissional.
“É dinheiro que você quer, nós daremos dinheiro. Quer impressa, estar ao vivo na TV, também daremos isto, agora fique calmo...” Iria continuar seu discurso, quando pelas costas do homem surge o motorista. Em suas mãos a um extintor, este motorista gesticula para que Victor continue falando. O assessor faz o que lhe foi mandado, pergunta sobre a vida pregressa e sobre mãe do homem robusto. Enquanto este dava uma resposta vaga o extintor atinge sua nuca, Estella é solta a arma voa para um local distante, longe da vista. Mais duas pancadas o homem recebe, já estando caído desmaiado. Neste momento Estella já estava refugiada no veículo brindado, onde o motorista após a violência lhe adentra.
“Iremos para a delegacia?” pergunta o condutor.
“Sim, temos que denunciar.” diz enfático Victor.
“Vamos para a premiação. Isso foi apenas um contratempo de um revoltado. Ele é igual aos outros, alguém sem voz. Por que estão incrédulos? Não me olhem assim. Acham que mudaria meu itinerário, por conta de algum perdido que nem sei o nome?”
“Poderia ter morrido.” diz Victor ainda trêmulo.
"Estou bem viva, cheia de adrenalina. Vá Arthur! Não é todo dia que ganho um prêmio de Melhor Atriz, por falar à verdade, num filme que escrevi o roteiro.”
Septuagésima Quarta Edição do Prêmio do Cinema Nacional
“O Profano Relicário, é um filme belíssimo. Uma pérola de nosso cinema. Embulido de nacionalismo é provocante. Com pouco de violência é dramatico, com pouco de amor é shakespeareniano, e o melhor desta promoção é que fostes indicado ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro e Melhor Atriz. Não temos dúvidas que irá ganhar as duas estatuetas, mas antes disto. Hoje, agora, tenho a honra de entregar. A magnífica Estella Mistral, os prêmios que lhe são devido, ou seja: Melhor Filme, Roteiro, Direção de Arte e por último não menos importante. Melhor Atriz.”
O quase atentando na saída do prédio, fostes esquecido. Estella sobe ao palco deslumbrante.
“Segurar esses troféus é mais do que uma vaidade, de dizer; Eu ganhei. Isto aqui.” Ela ergue o troféu dourado e o balança para frente e para trás. “É uma voz, nossa voz contra todos os que nós querem mau. Esse filme é dedicado à todos nós que amamos nosso país. Ele é um estandarte, uma insígnia de nossa cruzada, contra todos os que desejam expurgar toda essa gente de nosso país, para novamente o cristalizar...”
Agradecimentos à ficha técnica de produtores e colaboradores do filme e nada mas. Um discurso por dias especulado na imprensa que de início empolgou, esfriou, após isto morreu. Todos esperavam que Estella chicotiasse e subjugasse á minoria estrangeira de seu país, que semelhante ao homem robusto não mas fica calada. Pois vão à luta contra a maioria preconceituosa de indivíduos, onde neste meio se categoriza Madame Estella Mistral.
O Profano Relicário, fostes um título cogitado depois cozinhado na mente da roteirista e atriz, por anos. Ela anotava alguma ideia corriqueira que tinha e logo a esquecia, pois este trabalhar nos bastidores da sétima arte, não era algo que lhe atraía. Estella queria ser vista, brilhar aos olhos do público. Maturando várias ideias com sua maturidade evoluída, vendo movimentos e atos extremistas crescerem, analisando que a mídia e as massas sempre partilharam os mesmos conceitos que também crê, ou seja, que a minoria deve ser excluída socialmente, concebeu o enredo deste filme. Onde a palavra; profano no título refere-se ao fato que tanto a sociedade elitista intelectualizada e a massa trabalhadora, acredita piamente que imigrantes e os filhos destes profanam a cultura nacional e em seu lugar erguem suas tradições étnicas e onde nesta mesma querela Estella adoptou a palavra relicário, também de forma jocosa. Já estão de volta ao hotel que é sua morada. Ela sente-se satisfeita.
“Foi um bom trabalho. Ótimo trabalho. Melhor ainda foi a ideia de eu interpretar Franz Bretano.”
“Interpretar o líder desses pagãos, apenas trouxe problemas. Ameaças de morte, perseguição. Hoje esse quase atentado... Ainda acho que devíamos denunciar.” diz Victor que ainda lhe acompanha.
“Denunciamos e eu fico no furação da mídia, não tenho nenhuma vocação para Maria sofredora, me chamo Estella. O filme fala por si e por nós, se denunciarmos ele ficará em segundo plano.”
“Aceite a candidatura política, assim poderá ajudar muito mais.”
“Sou uma atriz eu minto para o público e não para cidadãos. Boa noite, volte amanhã.”
Alguns Quilômetros Além do Hotel Leconte. Lar de Estella Mistral
“Você tentou filho e é isso que importa. Ela vai morrer. Imagina! Fez seu pai parecer um lunático sem propósito e não vai levar o troco, mas é claro que vai. Franz será honrado, ele não era nenhum terrorista caricato como fizeram nesse filme. Como ela fez quando o interpretou. Porque o filme foi ideia dela... Ele só queira que nossa gente vivesse em paz com os que chegaram primeiro nessa terra.” Termina de falar com lágrimas nos olhos a viúva de Franz Bretano, líder da minoria estrangeira. Ela é uma franzina mulher e esta curando a nuca machucada de seu filho, Franz Bretano Jr.
“Vai ser o assessor. Ele todos os dia vê ela, será mais fácil. Quando eu agarrei ela, ele fingiu estar com medo. Se não fosse o motorista estaríamos felicíssimos agora.”
“Não confio nesse Victor. O motorista te atacou pelas costas, ele viu e não fez nada.”
“Mistral estava lá, ele tinha que fingir estar do lado dela. Ele sabe mamãe, o que tem que fazer. Ele tem ódio como nós. Uma irmã dele que era estrangeira, morreu faz uns anos, igual o papai. Pelas mãos desses canalhas nacionalistas. Victor disse uma coisa que é certa; matando Mistral criaremos um ídolo e mais motivos para nos chafurdarem.”
“Está hesitante Franz, que importa se criarmos um ídolo, alguém para eles cultuarem. O importante é que quem fez troça de seu para vai estar morta... Fico pensando e se eu morro, quem será nosso líder? No início acreditava que seria você, mas agora não creio nisso. Você não é o meu Franz, então nunca será como ele, você é apenas uma copia mal feita de Bretano.”
“Quando nasci vocês já estavam em guerra contra os nacionalistas, eu nunca me opôs. Eu sou o filho do homem não sou o homem, que lutava de frente, eu sou o contrário de papai, trabalho nos bastidores, mamãe, e assim não sou morto.”
Manhã Seguinte No Hotel Leconte
Permanece adormecida Estella. As cortinas da suite estão amplamente abertas. Há luminosidade por todos os cantos, Víctor sentado diante da cama aguarda algo acontecer e cogita: Dona Estella, todos esses anos estive ao seu lado, poderia ter me pedido em casamento, quem sabe assim eu esqueceria todo seu patriotismo paranóico. Quem sabe assim, eu não poderia ser um antídoto, igual á este aqui.
Em suas mãos o assessor tem um vidro escuro, que possuí semelhança com vidros de medicamentos. Ao seu lado há uma pequena mesa circular, em cima dela um copo ďágua. A mulher remexe-se na cama, prestes a acordar. Victor continua com seus pensamentos: Eu gostava muitíssimo de você Madame Mistral, até descobrir que também fazia parte de grupos anti-imigração. Antes pensava que você era apenas uma entusiasta, alguém indiferente, depois começou a fazer sucesso como atriz, o dinheiro e a fama vieram, e foram usados em prol desses grupos que lutam pela segregação. Se Madame não tivesse doado todo o cachê de Velho Novo Oeste para os Nacional Patriotas, eles não teriam atacado o grupo de Bretano e minha irmã estaria...
“Viva!” A última palavra não é pensada e sim gritada de forma seca, grossa e estrondosa. Por efeito disto Estella acorda.
“O que foi isso?” diz assustada, ainda confusa devido ao sono.
“Nada de importante, talvez um acidente na Avenida.”
A atriz de meia idade, envelhecida por conta das lutas nacionalistas, que travou a favor de seu amado país, senta-se na cama de brancos lençóis.
“Aquela é a roupa que vou usar?” ela diz isto apontando para um negro terno feminino.
“Madame ontem brilhou demais no tapete vermelho, recomendo que hoje seja discreta.” diz o assessor caminhando em sua direção.
“Tenho que estar bem disposta, hoje irei discursar e instigar os Nacional Patriotas, tenho que fazer doações, eles precisam de mais sifras para expulsar adultos e coagirem pessoas ao tráfego e prostituição, afinal meu caro, todo país tem sua escória e essa gente é a essa e nunca, jamais podem avançar na hierarquia social. E é claro que também vou contar o acontecido de ontem. Apenas porque não denunciei aquele ser, não significa que não farei uso do fato e dele. Direi a verdade; aquele abutre que quase me matou e outros querem todos os cidadãos de bem mortos, como você Víctor, para ficarem com um país que não é o deles, para recoloniza-lo. Porque é nosso Víctor, tudo nosso. A terra é nossa... Por que eles não ficam na terra deles? Por que não fazem de lá um paraíso? Igual foi dito no filme: Por que véns para cá?... Minha água mineral, por favor.”
“Aqui está Estella.” diz Victor lhe entregando o copo translúcido.
A atriz sente algo fisgar sua garganta, após isto uma infinita secura. Seu esôfago pesa-lhe, por fim seu coração pára. Nos seus últimos suspiros não estais mais sentada e sim estendida na cama, com Victor lhe fitando. Sua última visão é ver nas mãos entrelaçadas do homem de cabelos grisalhos o vidro do veneno que lhe findou. Como um relapso tardio quando seu corpo já está inerte, uma lágrima molha sua face.
“E fim... Poderia ter sido diferente, Madame, mas foi a senhora que galgou sua própria morte. Se tivesse mantido-se calada muitas coisas, muitas mortes não teriam ocorrido. Daqui à pouco ligarei para a recepção e direi que sofreu você um ataque, nada encontrarão na autópsia, o veneno é indetectável. Muitas pessoas irão ver-te no velório.” Ele senta-se na cama e pega a mão de Estella, na sua outra estais o terno negro. “Você estará vestida com isto. Seus filmes, sua arte ficarão, em suma, você já é uma lenda, controversa, amada e odiada ou nos dois termos. Simplesmente Madame, você entrou para a história de várias memórias. Porque eu, Estella Mistral hora te amei ora te odiei, agora eu te amo, mas jamais posso esquecer que você também não era esse ser indefeso que agora vejo. Você era uma predadora solta numa savana, pronta para abocanhar qualquer indivíduo de outro habitat, com outros hábitos de vida desemelhantes ao seu, por conta disso, desse maldito preconceito, eu te odeio. Portanto por causa disto a senhora não pode viver. Tinha que haver algum caçador que lhe caça-se, antes fosse eu querida do que outro, que sem dúvida seria cruel e sanguinário. Uma pena, realmente uma pena tudo ter acabado assim, minha querida, mas gente como você não pode existir. O progresso no nosso contemporâneo apenas flui com essa ideia de conviver com o diferente em harmonia, e tu Mistral não estava preparada para isto, eu te poupei de muitas crises de histéria... E agora o mundo tem de continuar à girar, igual girava como quando tu nasceu. Minhas lágrimas não são falsas, se você pudesse ver veria que são reais. Agora, sem sua figura os nacionalistas ficarão raivosos mas sem patrocínio, e nós em honra de Franz Bretano diremos à todos os inimigos que ficaremos, porque essa terra também é nossa terra. Vai levar tempo, mais as coisas ficarão em paz.”