174 - Cento e Setenta e Quatro
As casas da aldeia estavam fechadas e quem andasse pelo interior sentiria o peso dos lugares sem ninguém. Ainda havia ruelas empedradas, caminhos abertos na rocha, água a cantar pela encosta e a morrer no regato onde o agrião que ninguém plantou medrava, onde se adivinhavam peixes sob as sombras dos castanheiros. Abriu uma cancela e comeu fruta quase madura, deitou-se num alpendre devassado e dormiu o sono forte de dois dias. Quando acordou o cão que o cheirara de longe dormia no último feno das bestas. Fez-lhe festas, adoptou-o, seguiu o animal até à soleira onde parou a ganir. Estava só encostada a porta de poucas tábuas degradadas e o velho descansava junto ao lume. – És tu, Jaquina? Sei que não. Quem morre não volta. O cão lambeu-lhe a mão e ladrou. O visitante explicou-se e fez o caldo que tomaram, deu as cascas do queijo ao cão e viu-o a comer sôfrego o resto do arroz. – Não, não vou sair daqui. Aguento até virem trazer os víveres, talvez para a semana que vem. Ajeite-se na cama maior. Desde que sou sozinho a encontro muito larga para mim.