DESENCONTROS

... Ele fumou tanto naquele dia.

Alguns pensamentos. Ele pensou em ligar para ela e dizer: Espero que você não esteja sozinha.

Ela era e continua sendo altiva. Demarcada por memórias. Observou um céu tão negro, tão escuro, porém havia a lua. E, havendo a lua vinha um tipo de esperança sobre o nascer de um novo dia. Pensou nele, pensou que talvez ele deveria se encontrar em um quarto vazio, mas, ela também estava em um quarto vazio. E o que se faz com esses desencontros?

Ele a amou, amou demasiadamente. Assim como ela também amou, embora não tivesse dito que o amava. É que é sempre complicado dizer: EU TE AMO.

Na cabeça de ambos era como externar na realidade concreta esse sentimento que batia forte como a vida, só que dizer – como eles achavam – era como externar e tornar real.

Então, enquanto fumava ele pensou ela.

Enquanto observava a lua ela pensou nele.

Poderiam marcar algo, se encontrar e viver um grande amor, só que eles não acreditavam nisso, no grande amor.

Ela colocou um Chico Buarque tão melancólico, depois se pegou nos pontos de interrogação, de Gozaguinha. Mas, ela nunca soube que ele andava fatigado e que chegou a ir três vezes na porta dela, com uma carteira de cigarro, um resto de maconha e uma cachaça, esperava conseguir bater a porta e ser acalantado. E do outro lado da porta ela esperava por ele, só não sabia que ele se encontrava do lado de fora.

Foi então que ele não teve a coragem para bater na porta e ela não sentiu que deveria abrir.

Desencontro.

Ela permaneceu contemplativa sobre o fato de querer desejar amar aquele hoje. Só que era tanto tanto tanto e custava caro abdicar de si para amar o outro. Acho que ela teve medo, não, acho que ela pensou em si e em tudo que poderia ser e em tudo que o amor poderia limitá-la.

Ele, ao voltar, sema força para bater na porta dela, veio caminhando em meio a chuva e abriu a cachaça para esquentar o tempo. Parou em uma esquina e acendeu um cigarro e olhou o vazio daquela esquina, da rua, do mundo. Não era coerente, a vida, o fato de existir, não tinha coesão e isso assustou.

Ela, sentou-se na varanda e chorou um pouco.

No fim, eles se desencontraram e nem notaram que poderiam ser. Ser feliz, serem amados.

Apenas, continuaram a viver com os dias fatídicos e sem se notarem.

Não mais.

Naquela noite ela assistiu Antes do amanhece.

Naquela noite ele assistiu Love.

Linklater e Gaspar Nóe.

E, eu não sei o que aconteceu depois porque sou apenas o inventor de solidão.

Desculpem-me: mas eles nunca vão se encontrarem novamente.

Jailson Anderson
Enviado por Jailson Anderson em 02/03/2020
Código do texto: T6878300
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2020. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.