PARTÍCULA QUE DEIXOU DE SER GALÁXIA
Eu me distanciei de ti da mesma forma que pulsos contrários após se chocarem. Não mudei minha amplitude, nem minha frequência. Mas tu? Não entendi como, mas tu te tornaste imune a mim. Minha ressonância já não era a tua e nem mesmo teu timbre era o meu.
Não foi um afastamento normal. De repente, tu estavas livre de mim: tu tinhas me manipulado, me controlado, forçado a desatar meus laços contigo. E tudo bem, se quiseres seguir teu pulso, mas o que sou eu sem ti? Dependo de ti tanto quanto segundos de períodos dependem da gravidade.
Olha a parábola que forma teu sorriso. Já não mais me pertence. E eu não consigo mais ser teu caos, não consigo mais ser tua descarga elétrica. Eu viro um simples Efeito Doppler. Nada extraordinário. Uma frequência caindo. Continuo eu, mas tu já não me vês de tal modo. Continuo um terror, teu medo, a tua ruína e o teu choro no banho – ate mesmo as batidas contra tua cabeça. Mas o que vês? Fraqueza. Enquanto tua energia ascende, eu sou fraqueza.
Eu viro vácuo. E o que é o vácuo se não um monte de coisa se aniquilando? Antes eu te aniquilava, e minha risada reverberava, longitudinal, nos teus ouvidos, naquela mesma frequência que fazia teu corpo estilhaçar.
Agora, quem ri é tu. E a pior parte é não ouvir teu choro, apenas ver tua felicidade, o amarelo do espectro visível.
E eu? Deixei de ser buraco negro pra ser vácuo. A destruição para o destruído.